Crítica: Dogtooth

“DOGTOOTH" - 2009

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Um filme perturbador de Yorgos Lanthimos. O filme que revelou o diretor grego e concorreu ao Oscar e venceu Un Certain Regard em Cannes. Mais um filme que tenta representar o mito da Caverna de Platão.

Na história temos um casal (Chritos Stergioglou e Michele Valley) que assustados com os perigos do mundo moderno preferem criar os filhos totalmente isolados do meio externo. No caso três filhos, um jovem mais velho (Histos Passalis) de aproximadamente 20 anos e duas adolescentes mais jovens (Angeliki Papoulia e Mary Tsoni). Inicialmente, somos apresentados a uma família com cenas do cotidiano aparentemente comum. Não sabemos exatamente a época retratada devido aos aparelhos domésticos comuns em décadas passadas, como TV de tudo, aparelho de video-cassete e toca-discos. Mais tarde entendemos que trata-se de um meio dos pais controlarem as informações do mundo externo que entram em casa. A imagem familiar perfeita vai se desconstruindo aos poucos, através de pequenos comportamentos deturpados, revelando algo extremamente perturbador.

A casa está localizada no meio rural e é cercada por muros altos que impedem a visão da rua. O pai cria a história de monstros que atacam quem sai da casa a pé, sendo que o único meio seguro de chegar ao mundo externo seria através de seu veículo.

O entretenimento das crianças são videos caseiros ou filmes cuidadosamente selecionados, eles acreditam que o Frank Sinatra, cuja a voz é ouvida em sua vitrola, trata-se de um tio deles, as letras das músicas são traduzidas de forma adaptada para eles. Algumas palavras ganham novo sentido na interação familiar, como mar significa poltrona, xoxota vira lâmpada e auto-estrada vira vento forte.

A única janela física que eles tem do mundo externa é o céu, que de vez em quando é cruzado por algum avião, dando oportunidade para uma brincadeira óptica. Os membros da família participam jogos que estimulam a concorrência entre eles afim de arrefecer pensamentos revolucionários nos prisioneiros.

Afim de evitar tendências incestuosas por parte do primogênito o pai contrata uma prostituta que faz visitas semanais (a frieza mecânica das cenas de sexo chegam a incomodar). Christina, a prostituta, começa a trazer informações e fitas de filmes VHS para o primogênito, que acabam por corromper o ambiente hermético da família. 

O nome do filme, dente canino humano ou incisivo, refere-se a um mitologia criada pelo pai que fala para os filhos que ele só estarão livres para sair de casa quando o dente canino cair (responsável por outra cena perturbadora). No entanto, o dente canino pode ser uma metáfora para o instinto animal, a idéia de que por mais domesticados e protegidos dos estímulos “maléficos"do mundo, continuamos seres selvagens e carnívoros.

Crítica por: Fabio Yamada.