"ETERNOS" - 2021
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Um dos filmes mais aguardados do ano pelo grande público, mas que decepcionou grande parte da crítica especializada que desejava mais no mesmo dentro desse Universo Marvel, isto quer dizer, um novo Avengers.
Muitos ficaram extremamente entusiasmados com a idéia de colocar um orçamento astronômico associado a um elenco estelar diversificado nas mãos da diretora recém ganhadora do Oscar, Chloé Zhao. No entanto, todos esses elementos juntos nem sempre significa garantia de sucesso ou mesmo de um bom filme.
Muitos críticos se irritaram com o roteiro disperso e superficial, que não soube como se aprofundar em cada personagem, criando uma junção de cenas soltas associadas a diferentes momentos e civilizações de nossa histórias almejando descrever características e o desenvolvimento desses novos personagens que foram atirados no colo da roteirista/ diretora e do público leigo em geral.
Não sou e nunca fui um grande admirador desse universo dos quadrinhos ou das graphic novels e tenho orgulho de dizer isso, mas não significa que eu não saiba apreciar ou reconhecer um bom filme baseado em um desses trabalhos. Nunca gostei muito desses grandes super-heróis, sem preferi os monstros e vilões de filmes de terror. Então tenho que admitir que muitas vezes adormeci assistindo grande parte dos filmes do universo Marvel e afins. Dentro dessa disputa entre Marvel e DC comics, tenho que admitir que sempre preferi o universo mais sombrio da DC, além de adorar os livros do Neil Gaiman publicados pela Vertigo.
Independente de ser voto vencido, tenho que revelar que adorei esse último filme da Marvel, talvez justamente por não ter muita coisa a ver com o universo anterior. Apresentado diversos super-heróis relacionados a diversas mitologias de diferentes civilizações, mas que na verdade não tem nada de super-heróis. A persona de cada um deles faz alusão a algum deus de alguma religião ou civilização. A idéia de colocar esses personagens como seres que são eternos, mas não imortais, mas que acompanham a história da humanidade com o único objetivo de eliminar os malfadados Deviantes que invadiram a Terra, sem nunca interferir nos conflitos ou disputas entre os próprios humanos é interessante.
Nesse grupo de seres, que aparentemente devem se manter imutáveis durante toda eternidade, estão Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Ajak (Salma Hayek), Kingo (Kumail Nanjiani), Sprite (Lia McHugh), Phastos (Brian Tyree Henry), Makkari (Lauren Ridloff), Druig (Barry Keoghan) e Gilgamesh (Ma Dong-seok). Cada um deles com seus poderes especiais, que não vale a pena seres esmiuçados aqui.
Eles obedecem as ordens de seu líder o Arishem (David Kaye), que faz parte de um grupo de seres supremos que são responsáveis pela criação das estrelas e galáxias. Essa batalha entre a trupe dos eternos e os deviantes em muito se assemelha a clássica batalha mitológica entre os Deuses do Olimpo contra os Titãs, que acabam por serem aprisionados no Tártaro. Outra alusão a mitologia grega seria o despertar de Cronos, mas isso pode se tornar um grande spoiler.
A idéia de relacionar os super-heróis com seres mitológicos sempre foi sedutoras ou fácil para os escritores de quadrinhos, se apropriando de uma persona com empatia garantida com o público a vista que já foi testada em outras épocas para com outros tipos de consumidores ou crentes.
No entanto, jogar tudo isso para o alto e estabelecer uma linha de raciocínio, onde os ditos deuses ou super-heróis são apenas disfarces ou passatempos para que a civilização consiga se desenvolver e prosperar, suportando as adversidades da realidade a fim de criar um rebanho que possa permitir a origem de algo maior é bem ousada e perturbadora.
A linhas de pensamento filosófico e morais dessa história são muito mais profundas e sombrias do que qualquer outro filme do universo Marvel. Eu, pessoalmente, senti falta de uma cinematografia mais sombria e sinistra, digna dos filmes do Zack Snyder (já disse que sou fã).
A beleza da estrutura da história desses personagens está justamente na essência da eternidade de cada uns dos personagens, afinal como viver uma eternidade sem deixar se contaminar com o que está a sua volta? Como permanecer imutável? como não carregar cicatrizes e lembranças de vidas passadas? Como se manter o mesmo durante todo o sempre, justamente para essas criaturas para as quais o tempo não tem valor ou não pode ser quantificado? Como elas podem ter dimensão do tempo, se não pelas mudanças ao seu redor? Como observar essas mudanças, sejam por momentos vividos ou mortes assistidas sem se deixar contaminar de alguma forma?
Será que isso também vale para os seres que não são eternos? Será que podemos passar uma vida inteira ignorando o que acontece ao nosso redor? Devemos ou podemos simplesmente fechar os olhos e lavar as mãos? Ignorando o destino do planeta e dos outros seres e humanos que o habitam? Quantas outras oportunidades acreditamos que teremos para fazer algo diante de uma vida tão curta e finita?
Os eternos não são outros Vingadores e muito menos não são outros super-heróis, são apenas mais alguns peões desse jogo que se defrontam com a idéia de quão confusa e contraditória pode ser as nossas motivações de vida. Afinal qual a razão de nossa existência? Os ditos super-heróis ou deuses não tem muitas dúvidas a respeito disso, no entanto, aqueles que ousam a olhar um pouco mais além daquilo que os olhos conseguem ver, atrevem-se a mergulhar num universo de dúvidas e incertezas com as quais somente seres falhos como nós conseguimos conviver.
Crítica por: Fabio Yamada.
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