Crítica: Bergman Island

"BERGMAN ISLAND" - 2021

🔑🔑🔑🔑🔑



Um belo filme que tenta versar sobre de onde se origina a inspiração para a criação da arte, filmes ou roteiros de filmes. Colocar um mestre do cinema mundial como Ingmar Bergman no centro dessa discussão pode parecer bem capcioso e desafiador incialmente, mas logo percebemos a qual ponto a diretora e roteirista Mia Hansen-Love deseja chegar ou ultrapassar. 

Vivemos uma época na qual a informação circula como o ar, não existe mais direitos a privacidade, todos estão sujeitos ao julgamento alheio. Qualquer um, em qualquer profissão pode se tornar uma celebridade de uma hora para outra, o que dirá os fomentadores do meio artístico. Alguns dizem que toda obra de arte está impregnada com as vivências do próprio artista, não existindo como desagrega-las. Se a vida de cada um e o seu entorno são as verdadeiras musas de cada artista ou escritor, existe realmente como separar a vida pessoal do produto artístico que você produz? Qual o peso de seu comportamento na vida pessoal sobre o valor final de sua obra? 

Bergman para a maioria dos cinéfilos em todo mundo é considerado um verdadeiro deus do cinema, inclusive para mim. No entanto, para muitos suecos e conhecedores de sua vida pessoal, ele pode ser considerado uma verdadeira fraude, afinal o sofrimento e os questionamentos que ele exibe em seus filmes nunca se quer passaram perto da realidade sua vida pessoal e se um dia chegaram próximo, foi das vidas daqueles que conviviam com ele e sofreram com o comportamento indiferente e o desamor do próprio diretor obcecado.

No filme acompanhamos a viagem do casal de cineastas Chris (Vicky Krieps, maravilhosa) e Tony (Tim Roth), fãs de carteirinha do diretor sueco que se enfurnam na Ilha de Faro, local da residência final de Bergman e que serviu de cenário para muito de seus filmes. Os dois além de participarem de um festival de cinema, visitarem locais marcantes da vida do diretor e assistir e discutir antigos filmes de Bergman, procuram inspiração para escreverem ou terminarem seus últimos roteiros.

Enquanto Tony passeia pelo safari Bergman e discute suas obras famosas, terminando rapidamente seu roteiro. Chris entra em crise por não saber como terminar seu projeto de roteiro sobre a história de amor intermitente entre Amy (Mia Wasikowska) e Joseph (Andres Danielsen Lie). A história de amor não correspondido de Chris invade a tela e a realidade dos dois roteiristas  criando um contra-ponto para a paixão arrefecida dos escritores.

Ao mesmo tempo que acompanhamos os encontros e desencontros dos personagens criados por Chris nos deparamos com as descobertas da escritora sobre seu ídolo Bergman através dos olhos do recém-conhecido estudante de cinema sueco Hampus (Hampus Nordenson), que apresenta a sedutora e misteriosa ilha para Chris. São nesses pequenos e sorrateiros passeios, onde Chris abre mão da companhia de Tony, que ela vai descobrindo mais sobre si mesma e o que realmente inspira sua obra.

Após terminar de contar sobre seu roteiro sem final para o marido, Chris acaba permanecendo alguns dias sozinha na ilha e reencontra Hampus na casa de Bergman. É nesse cenário bergmaniano que Chris encontra o final para sua história, onde realidade e arte se misturam inundando a tela de vida. Demonstrando que não existe como separar a vida da arte, que a vida e as pessoas que nos circundam são os motores para nossa escrita. Esses são os fantasmas que se transformam em personagens em nossos filmes e livros. Eles podem ser irreais ou falsos aos olhos dos outros, mas esses fantasmas sempre estiveram de alguma forma bem vivos ao nosso lado.

Crítica por: Fabio Yamada.




Comentários