Crítica: Amizade Dolorida

"AMIZADE DOLORIDA" - 2018-2020

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Uma série cômica sobre personagens do universo BDSM, Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo.

Podemos dizer esse tipo de fetiche ou comportamento existe desde que o mundo é mundo, mas que foram explorados e desmistificados por alguns estudiosos e escritores como Sacher Masoch e Marquês de Sade, que deram origem aos termos sadismo e masoquismo.

A série com episódios curtos de 20 minutos, desde a primeira temporada, abusa do humor para caracterizar esse universo através de personagens caricatos em situações clichês. No entanto, acredito que a intenção de seus criadores tenha sido o de desmistificar o tema e inserir o grande público nesse universo peculiar.

Na história temos, dois amigos de colégio, Tiff (Zoe Levin) e Pete (Brendan Scannell), que já tiveram um relacionamento amoroso. No entanto, Tiff tornou-se uma dominatrix e Pete assumiu sua homossexualidade. Eles voltam a se aproximar justamente por causa da profissão de Tiff, ela chama Pete para acompanha-la em seu trabalho, justamente para se sentir mais segura na presença dos clientes. 

Pete acaba aceitando a proposta, justamente por necessitar de dinheiro para pagar seu aluguel na cidade, já que seu sonho de se tornar um comediante de stand-up ainda não decolou. Fica claro, na relação de amizade entre os dois, a existência de uma co-dependência patológica relacionada a traumas do passado.

Vários personagens secundários deliciosos circundam a dupla de protagonista, como Doug (Micah Stock) o colega de faculdade de psicologia de Tiff que se apaixona por ela, Josh (Theo Stockman) o namorado enrustido de Pete, Rolph (Matthew Wilkas) o empregado submisso de Tiff que nunca tira a máscara de couro ou Frank (Alex Hurt) o machão dominador em crise que mora com Pete. Além é claro de toda clientela de Tiff e Pete, adeptos de todos os tipos de prazeres que a sigla permite, desde um aficcionado por pinguins, até aqueles masoquistas do cartão de crédito.

No entanto, se observarmos um pouco além da camada de humor presente na série, podemos visualizar uma metáfora sobre nossas relações interpessoais do dia a dia, que são repletas de doses de sadismo e masoquismo. Vejamos por exemplo pessoas que insistem em relacionamentos abusivos ou casamentos de conveniência ou afinidades eletivas.

A base dos relacionamentos humanos se define pelo interesse de um sobre o outro, sobre relações de poderes estabelecidas. Os grupos de pessoas adeptas do comportamento BDSM apenas extrapolam essas regras, deixando esses jogos mais visíveis a superfície, com a vantagem de estabelecer limites dentro de um ambiente seguro.

Teorias filosóficas sobre o comportamento humano à parte, a séria criada por Rightor Doyle consegue divertir o espectador sem ofender sua inteligência, navegando em um curso limítrofe entre a bizarrice e o cômico tentando respeitar os indivíduos adeptos das práticas BDSM.


Crítica por: Fabio Yamada. 

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