"AMANHECER " - 2020
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Um filme que transporta o expectador para um universo recheado de situações absurdas, onde a lógica e a reações dos personagens não seguem nenhum tipo de convenção próxima a nossa normalidade.
Temos que lembrar que estamos assistindo a um filme do diretor croata Dalibor Matanic, responsável pelo “The High Sun” de 2015 onde o amor entre um personagem sérvio e um croata eram retratados em três épocas diferentes separadas por 10 anos (1991, 2001 e 2011). Sempre levando em conta a Guerra dos Balcãs, o confronto mais absurdo do século passado, que jogou vizinho contra vizinho, irmão contra irmão com as desculpas de origens étnicas e religiosas.
No filme acompanhamos a vida do casal Matija (Kresimir Mikic) e Ika (Tihana Lazovic) que vivem em uma fazenda isolada no campo com seus dois filhos Kaja (Lara Vladovic) e Nikola (Maks Kleoncic). Aos poucos vamos descobrindo que os moradores da região estão vendendo suas terras e casas devido a algum tipo de ameaça ou pressão vinda da cidade. Matija concorda em vender suas terras a revelia de Ika que deseja permanecer em suas casa, por motivo muito mais profundos e sombrios.
A música penetra no filme aos poucos criando belas cenas que ilustram o sofrimento do casal e a alegria de Kaja. A presença de trabalhadores rodeando a casa de Matija cria uma atmosfera de suspense e perigo iminente, que culmina com o desaparecimento temporário das crianças. A briga do casal em torno dessas ameaças revela o verdadeiro motivo de Ika deseja permanecer em sua casa. Pequenos indícios pinçados em conversas com outros personagens sugerem uma união de etnias diferentes entre o casal de protagonistas, além é claro do desconforto em religião de ambos.
O diretor nunca apresenta todas as peças do tabuleiro para o expectador, lançando este para dentro de seus redemoinhos de loucuras a partir do momento em que um forasteiro com mesmo nome de Matija, após construir um fachada de casa igual a da família no terreno ao lado, invade a casa e diz ser o substituto do protagonista. Se isso já não fosse suficiente, a família aceita o invasor como novo pai e abandona o verdadeiro Matija.
Em uma situação de guerra ou momentos que antecedem esses cataclismas, a população e seus governantes começam a tomar decisões e proferir discursos absurdos, ações e regras que em momentos de normalidade nunca jamais seriam aceitas pela maioria da população. As normas de convivência e ética são descartadas e jogadas no lixo, prevalecendo a lei do mais forte.
A premissa real dessa história está justamente no ponto em que os personagens começam a aceitar esses absurdos passivamente, sendo obrigados a se submeter a elas ou fugir de suas casas. Matija e sua família descobrem que muitas vezes o único jeito de lutar pelos seus direitos e suas vidas será jogando com as mesmas armas de seus opressores, por mais descabidas e inverossímeis que elas nos pareçam. Precisamos descobrir quais serão nossas armas para lutarmos pela nossa liberdade e até que ponto aceitaremos os absurdos da realidade atual.
Crítica por: Fabio Yamada.
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