Críticas: Lidando Com a Morte

"LIDANDO COM A MORTE" - 2020

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Um documentário com uma premissa interessante, muito antenado com a diversidade étnico-cultural de uma sociedade globalizada ainda mais impulsionada pelas ondas migratórias recentes, mas que demonstra a real imprevisibilidade dos acontecimentos e desfecho ao qual um projeto documental está sujeito. 

Na história acompanhamos a empresária Anita que é funcionária da Yarden que planeja construir um centro funerário multicultural em Amsterdã. Anita realiza um trabalho de pesquisa de campo e público tentando realizar um plano de negócios que englobe a tamanho do público alvo com todas as suas etnias diferentes e as particularidades de cada uma das cerimônias envolvidas, desde o número de convidados até as dimensões dos cubículos dos reservatórios sanitários.

Paralelamente, a vida profissional de Anita, acompanhamos também o relacionamento dela com seu pai, que vive em uma casa de repouso e que planeja com a filha os preparativos para seu funeral, desde a escolha das músicas até detalhes de como deve ser o caixão.

Anita e seus companheiros de trabalho visitam várias comunidades estrangeiras, ganeses, indianos e muçulmanos, além de mesquitas e centros comunitários, afim de se aproximar dessas comunidades e ao mesmo tempo descobrirem as peculiaridades dos rituais fúnebres dessas diferentes etnias. Essas visitas rendem momentos cômicos e outros constrangedores, tanto para a equipe de Anita quanto para essas comunidades. Impossível, não sentir o tom preconceituoso de algumas falas da própria Anita ou deixar de reparar nos risos involuntários e inconsequentes de sua equipe durante os cerimoniais, mesmo que esses fossem apenas ensaios, o desrespeito para a cultura estrangeiro é notório, deixando o expectador em situação desconfortável.

A montagem do documentário criando situações de paralelismo entre o funeral do pai de Anita e o de um membro da comunidade de Gana, também causa um desconforto, seja pela invasão da privacidade ou pelos comentários sobre as roupas da mulheres de Gana ou pela caracterização carnavalesca ostentada pela produção do documentarista.

Durante todo o filme permaneci com uma sensação dúbia, as vezes pendendo para admiração de que uma sociedade européia evoluída com seu olhar para a demanda de comunidades de imigrantes, mas em outros momentos pendendo para a idéia de uma empresa que visa apenas lucros com a dor desses imigrantes que são obrigados a celebrar seus mortos numa realidade muito distante de suas origens. 

Anos depois, após vários imbróglios jurídicos e impedimentos financeiros, finalmente a construção do centro funerário se inicia, mas tanto a realidade de Anita quanto as demandas dessas comunidades já se modificaram ocasionando um desfecho surpreendentemente incômodo para essa fúnebre e funesta história.

Crítica por: Fabio Yamada.




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