Crítica: Utopia

"UTOPIA" - 2020

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A produção a Amazon é baseada numa série homônima lançada no Reino Unido em 2013 e teve o seu roteiro re-escrito por Gillian Flynn de “Sharp Objects”e “Gone Girl”. A série não poderia ter sido lançada em momento pior, justamente durante a pandemia do COVID 19.

Na série somos apresentados a um universo distópico, no qual uma rara revista em quadrinho chamada Utopia foi descoberta na casa de um homem que faleceu. Um grupo de desavisados planeja conseguir dinheiro com a venda da revista e anuncia em sites especializados. Eles resolvem vender a revista durante uma FringeCon ( uma espécie de ComicCon), onde nerds alucinados se degladiam para obter a desejada revista.

Um grupo especial de nerds formados por Becky (Ashleigh LaThrop), Ian (Dan Byrd), Wilson Wilson (Desmin Borges), Grant (Javon “Wanna” Walton) e Samantha (Jessica Rothe); conseguem se reunir e realizar propostas para compra da revista. Ele são adeptos de teorias da conspiração onde a revista que conta a vida da heroína Jessica Hyde, na verdade esconde códigos sobre epidemias que assolaram a humanidade. Eles acreditam que esse novo exemplar da revista deve prever a próxima pandemia mundial.

No entanto, eles são surpreendidos pela ação de uma sociedade criminosa misteriosa, que persegue a todos que entram em contato com a Graphic Novel e que ansia por saber o paradeiro de Jessica Hyde. Dois assassinos dessa rede, exterminam todos os que tiveram contato com a malfadada revista. No entanto, Grant consegue fugir com o exemplar do hotel onde estava sendo realizada a conferência.

O grupo de nerds acaba se reunindo na casa de Wilson Wilson, onde acabam sendo surpreendidos por Arby (Christopher Denham). Wilson é torturado e tem um olho enucleado com uma colher. Jessica Hyde (Sasha Lane) também aparece no hotel e acaba descobrindo que Grant escapou com a revista.

Depois de um série de reviravoltas surpreendentes e muita violência, Jessica se encontra com o grupo de nerds e eles se aventuram atrás do exemplar da revista. O grupo planejar salvar a humanidade, sem ter idéia do preço que estarão pagando ao entrar nessa aventura. Enquanto Jessica deseja reencontrar o pai, que teoricamente foi aprisionado pelo Mr. Rabbit, em uma alusão a “Alice no País das Maravilhas”.

Duas tramas paralelas, percorrem toda a primeira temporada, a primeira com a história de um gênio da indústria farmacêutica, Kevin Christie (John Cusack), que ambiciona fornecer um tipo de carne artificial nas merendas das escola de todo país, mas que acaba envolvido em um escândalo, sobre uma infecção viral disseminada por seus produtos. A segunda, sobre o médico epidemiologista Michael Stearns (Rainn Wilson) que descobriu um vírus no Peru, que muito se assemelha ao da patologia que se espalhou pelas escolas matando dezenas de crianças.

Conforme a trama da série vai se desenrolando, inicialmente somente com algumas pitadas politicamente incorretas, tudo evolui rapidamente para um imensidão de desatinos que corroboram com nossos eventos atuais, fomentando teorias de conspiração, fake news, criação de vírus artificiais, vacinas que inoculam patógenos mortais.

Se de alguma forma, a série consegue captar o zeigeist de forma sem igual, apesar de ter sido filmado no ano anterior a pandemia e inspirada em uma série britânica de 2013, as coincidências assombram mas pelo lado mais negativo. Justamente por fomentar idéias que podem desencadear comportamentos errados ou gerar teorias fantasiosas sobre a nossa realidade, o que poderia comprometer a saúde da população.

É claro que imaginamos que o espectador saiba discernir ficção da realidade, no entanto, em vigência dos últimos acontecimentos e dos discursos de pessoas anônimas e ilustres, nunca podemos menosprezar a dimensão real da ignorância em nossa sociedade. São tantos discursos estapafúrdios defendidos com tamanha gana, que não me surpreendo com mais nada. 

Infelizmente e penosamente descobri que realmente existe público para tudo. A capacidade do homem de gerar conhecimento e cultura não chega aos pés da “genialidade” de alguns em criar falsas teorias que corroem a verdade. Alguns dizem que uma mentira contada muitas vezes acaba por se transformar em verdade. Eu acredito que estamos nos afogando em um mar de ignorância onde ninguém se importa com a verdade.

Crítica por: Fabio Yamada

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