"ROUND 6" - 2021
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Um seriado coreano realmente surpreendente que consegue ao mesmo tempo ser incisivo em sua crítica social, aterrorizante com altas doses de violência e emocionante com seus personagens complexos. Uma mistura de “Parasita” de Bong Joon Ho com “Alice in Borderland” para ficarmos com referências apenas orientais.
Uma série que não consegui despregar os olhos desde o primeiro episódio, seja pela alto nível de qualidade de produção ou pela coragem do roteiro. O primeiro episódio começa um pouco devagar com a introdução do nosso cativante protagonista Gi-Hun (Lee Jung-Jae), um verdadeiro fracassado que com mais de 40 anos ainda mora com a mãe que trabalha até a exaustão para sustentar a casa como vendedora ambulante. Ele rouba o dinheiro da conta da mãe para manter seu vício em jogos. Gi-hun tem uma filha pequena de um casamento fracassado, mas não consegue realizar seus desejos nem no dia de seu aniversário. Apesar de ter conseguido ganhar uma bolada em apostas de corrida de cavalos, acaba perdendo o dinheiro e leva uma surra de agiotas. Em meio a tudo isso acaba sendo recrutado para participar de uma exótica gincana com outras centenas de participantes.
Através de uma ligação para um número do cartão de visitas da misteriosa organização, Gi-hun, assim como os demais convidados, combinam pontos de encontros de onde embarcam para um destino misterioso. Cada um dos participantes é dopado, revistado e analisado para depois acordarem em um grande salão com camas e beliches onde serão abrigados até os jogos começarem.
Os jogadores de ambos os sexos e idades variadas descobrem que as únicas coisas que tem em comum é a de serem fracassados financeiramente no mundo externo. Gi-hun acaba encontrando um antigo amigo de infância, Sang-Woo (Park Hae Soo), que se formou em primeiro da turma e cursou faculdade de administração mas acabou na falência após perder investimentos de vários clientes. Ele também reencontra Sae-byeok (Ho Yeon Jung) a garota que roubou o prêmio de sua aposta em cavalos. Outros personagens marcantes do jogo são um velho senhor com um tumor cerebral, um imigrante ilegal paquistanês, um bandido que traiu seu chefe e uma desbocada manipuladora sem escrúpulos.
Um dos pontos fortes dessa série é a crítica social ao capitalismo predatório, onde a trama compara a realidade desses personagens dentro do jogo com suas vidas reais no mundo exterior. Na maior parte das vezes, os personagens acabam tendo maior chance de sucesso dentro do jogo sanguinário do que na realidade maquiada do mundo capitalista.
Outra grande qualidade do roteiro está em utilizar jogos e brincadeiras de infância em cada um dos seis rounds ou etapas, cada um deles com sua decorações frívolas e inocentes com cores fortes evocando momentos de nossa longínqua infância. O contraste dos adultos egoístas, manipuladores e sanguinários dentro desses cenários lúdicos é magnífico.
Talvez o grande ponto negativo da série esteja justamente em seu final que tenta encontrar explicação lógica para as origens do jogos e a inserção de patronos de origem ocidental, como se somente a idéia de dar uma chance mais justa e equalitária para as pessoas se matarem por um punhado de dinheiro já não fosse o suficiente.
Uma excelente e inteligente utilização do fascínio que o público tem com a exibição de gincanas ou lutas entre competidores em busca de um prêmio (os realitys da vida) desde de a época dos gladiadores para demonstrar mais especificamente que vivemos uma luta constante e incessante na nossa realidade muito mais cruel que os embates de nossos queridos e desprezíveis personagens dessa magnífica série coreana.
Crítica por: Fabio Yamada.
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