Crítica: O Garoto Mais Bonito do Mundo

"O GAROTO MAIS BONITO DO MUNDO" - 2021

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Um filme interessante que foge um pouco daquilo que inicialmente o expectador tinha em mente. No filme sobre a vida atual de Björn Andrésen, o garoto prodígio que interpretou o personagem Tadzio ao lado de Dirk Bogarde no célebre filme de Luchino Visconti “Morte em Veneza” de 1971.

Os mais simplórios e conservadores devem imaginar que um garoto com traços delicados que realizou um filme com apelo homossexual na adolescência tenha sido contaminado pelo ambiente e desenvolvido um comportamento homossexual. Risos, como se isso fosse possível. Claro que na cabeça de alguns é exatamente assim que acontece, vide nossa ministra dos direitos humanos.

No entanto, ele se tornou um idoso cabeludo e heterossexual, que até hoje em dia trabalha como ator em papéis menores, mas que ficou marcado por aquele papel na adolescência. Sim, ele viveu todos os dramas de ser um adolescente alçado a fama mundial do dia para a noite. O filme tenta equilibrar a vida atual de Björn e a vida pós-Tadzio. 

Os relacionamento malfadados, alcoolismo e tragédias pessoais fazem parte do currículo de qualquer estrela mirim que se preze. Afinal, um garoto sueco desconhecido que foi levado pela avó para realizar um teste de encenação contra a vontade, realiza um filme com um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos e que depois recebe o título de “garoto mais bonito do mundo”, não tem como saber ligar com toda a pressão e stress que advém depois disso.

Somos apresentados a alguns acontecimentos dos bastidores de filmagem e de festas após premiações de grandes festivais de cinema. Björn relata uma excursão para o Japão onde acaba tornando-se um cantor que canta músicas em japonês, uso forçado de estimulantes por parte dos produtores para que ele aguente dezenas de compromissos no mesmo dia.

No entanto, a parte mais interessante e surpreendente do documentário sobre a vida de Björn está no período que antecede o filme de Visconti. O desaparecimento e suicídio de sua mãe, o desamparo familiar no qual o personagem vivia e a depressão hereditária ou desencadeada por esses fatos.

Alguns dizem que a beleza absoluta é a morte, pois afinal depois de alcançada essa grandeza não existe mais vida. O filme de Luchino Visconti é exatamente sobre esse tipo de beleza intransponível, onde um homem ao se deparar com tamanha beleza não tem mais motivos para viver. O próprio diretor brinca em uma das entrevistas para promover o filme, que Björn já não era mais belo como fora no filme, afinal toda beleza é efêmera.

Uma questão surge na mente do expectador mais atento, a beleza que Björn ostenta no filme é apenas estética ou floresce devido as dores e fantasmas internos que ele carrega? Uma ode ao romantismo, onde a arte e a beleza surgem da dor e do sofrimento. Ou como dizem todo romântico morre jovem. No entanto, Björn sobreviveu, casou, teve dois filhos. Encarou novamente a morte ao se deparar na cama com seu bebê morto.

Alguns dizem que todo filme já nasce morto e que a arte é a morte da vida, no entanto, acredito que a arte seja um forma de encarar a vida diante o medo da morte e não existe beleza maior do que encapsular e eternizar essa dor em imagens simulando que somos capazes de suplanta-la. Afinal são esses pequenos fragmentos de beleza das memórias de uma vida que carregaremos para o nosso leito de morte.

Crítica por: Fabio Yamada.




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