Crítica: "Gosto de Cereja"

"GOSTO DE CEREJA” - 1997

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Um dos melhores filmes de Abbas Kiarostami, que é caracterizado por seu cinema lento e introspectivo. Podemos definir o filme como um roadmovie existencial vencedor da Palma de Ouro.

Na história temos o senhor Badii (Homayoun Ershadi) que percorre as ruas de Teerã em seu carro. Ele circula por zonas pobres abordando transeuntes desempregados que oferecem trabalhos avulsos e ocasionais. Ele primeiramente tenta convencer as pessoas a entrarem em seu carro e após uma abordagem inicial faz a proposta de um determinado serviço. Existe um certo suspense a respeito do serviço, na mente do espectador acostumado com o cinema ocidental, imaginamos serviços sexuais ou planejar um crime. O serviço, em si, consiste em na pessoa encontra-lo em determinado local as seis horas da manhã do dia seguinte. Caso ele responda ao chamado, a pessoa deve ajuda-lo a sair da cova, caso contrário deverá jogar 20 pás de terra, enterrando seu corpo. Ao descobrirmos o verdadeiro intento de Badii, sentimos um misto de decepção e curiosidade. 

Várias pessoas entram no carro de Badii muito ficam chocados com a propostas, outros tentam descobrir o motivo, outros tentam dissuadir Badii de se matar. Nós espectadores somos colocados naquele banco de passageiro, apesar nunca descobrirmos os motivos que levaram Badii a querer se matar, nós nos identificamos com cada um dos passageiros. 

As longas pausas com cenas paradas servem para pensarmos no que o protagonista está sentindo, os simbolismos das imagens paradas, a dilatação do tempo e as divagações existenciais do protagonista. O tal gosto da cereja.

Ao final, sem revelar o desfecho do protagonista, somos apresentados a cenas que focam na equipe de filmagem. Alguns dizem que foram utilizadas pois os planos finais do filme se perderam no processo de montagem, no entanto, podemos imaginar que o diretor quis dizer que trata-se apenas de um filme. Um filme depois de terminado está morto, não tem mais vida, assim como nosso protagonista que procura a morte ou a realidade do povo iraniano, tão bem simbolizada pela aridez das imagens.

Crítica por: Fabio Yamada.

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