Crítica: At The End Of Evin

"AT THE END OF EVIN" - 2021

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Um filme agressivo que tenta colocar o expectador literalmente no lugar da protagonista, transformando a lenta da câmera que capta as imagens nos olhos da personagem. O diretor tenta criar uma analogia entre o sentimento de aprisionamento em um corpo estranho do indivíduo transgênero com a literal troca de identidades entre duas pessoas diferentes e suas inevitáveis consequências.

Aos olhos da protagonista, através de uma filmagem com câmera subjetiva, somos atirados ao cotidiano de vida de Amen (Mehri Kazemi), um transgênero feminino do qual nunca vemos o rosto. Através de seus próprios relatos descobrimos que saiu da casa dos pais e mudou-se para Teerã. Trabalhou em uma loja com identidade falsa, mas após se descoberta, tentou exílio na Grécia sem sucesso.

O sonho de Amen é realizar a cirurgia de redesignação de gênero, mas que apesar de não ser proibida no país, custa muito dinheiro tanto no setor público quanto no privado. Uma recém-conhecida sua Nilo (Shabnam Dadkhah) leva Amen para a casa de um empresário Naser (Mahdi Pakdel) que promete pagar-lhe os custos da cirurgia em troca de alguns favores.

O clima de suspense e mistério dentro da casa e as mudanças constantes de versões sobre as histórias de rodeiam o empresário, levam Amen e o expectador a ficarem desconfiados sobre as verdadeiras intenções do empresário e qual o custo final da realização do sonho de Amen.

Não vale a pena revelar mais surpresas do roteiro, no entanto, as várias reviravoltas da história desde a importância da voz de Amen, a necessidade de sumir com suas digitais e o comportamento cada vez mais agressivos de seus oponentes revelam aos poucos um final pouco feliz para a nossa protagonista. 

Ao final do filme, percebemos que para essas pessoas que não se encaixam no que a sociedade aceita como normal sempre estarão aprisionadas de alguma forma, seja num corpo indesejado, um armário bem enrustido ou embaixo de rótulos intransponíveis. As pequenas vitórias que essas minorias adquirem durante décadas de lutas podem ser varridas com um simples sopro. Destravamos nossas algemas apenas para percebermos que estamos numa prisão um pouco maior. Impossível não se revoltar com a idéia de que nossas vidas e sonhos não signifiquem nada para a maior parte das pessoas e que para essa parcela da humanidade devemos nos contentar com o que eles consideram condições subumanas de vida. Aos olhos desses seres não somos dignos de sermos considerados humanos, quando na verdade os únicos não humanos são aqueles incapazes de enxergarem a humanidade dos outros.


Crítica por: Fabio Yamada.




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