Crítica: "Thelma"

"THELMA" - 2017

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Um filme poderoso de Joachim Trier. O diretor norueguês consegue misturar um drama religioso, com descoberta sexual de temática LGBT e poderes sobrenaturais, criando um filme de suspense intrigante. 

A história inicia-se com uma cena perturbadora, na qual, pai e filha (Thelma com seis anos) saem para caçar em uma floresta nevada com um lago congelado. Em determinado momento, o pai aponta o rifle para filha e desiste de atirar. Em uma elipse longa, passamos a acompanhar a vida de Thelma adulta (Eli Harboe, fantástica), ela sai da cidade pequena e vai estudar biologia em uma universidade de Oslo. A cena de apresentação, ja demonstra a opressão e julgamento que pesam sobre a garota, com um plano aberto em plongée sobre o campus da universidade que vai se aproximando lentamente da protagonista. Uma metáfora para dizer que existe alguém observando os nossos passos. 

A garota católica reprimida apresenta um comportamento conservador se comparado com os outros alunos, ela liga diariamente para os pais, não frequenta festas, não ingere bebidas alcoólicas e não tem interesse em relacionamento amoroso. O maior estranhamento surge a partir do momento em que ela começa a apresentar crises de convulsões epilépticas sem causa aparente. Isso coincide com a aproximação dela com Anja (Kaya Wilkins). Em uma cena linda em um espetáculo de dança na Ópera da cidade, Anja investe sexualmente sobre Thelma, que a rejeita apesar do desejo latente. Thelma tenta de todas as formas afastar a amiga, renegando seus desejos sexuais (cenas com serpentes simbolizando o pecado iminente). 

Os poderes sobrenaturais de Thelma ficam evidentes no momento em que ela faz Anja simplesmente desaparecer da face da terra. Através de cenas de flashback, descobrimos que Thelma já havia desmaterializado outro ente querido da família. 

Thelma retorna para casa dos pais Trond e Unni (Henrik Rafaelsen e Ellen Dorrit Petersen) onde fica mais escancarada a repressão familiar relacionada aos poderes de Thelma. Os pais costumam sedar a filha para conter seus poderes. Trond contesta a veracidade dos sentimentos de Anja, dizendo que ela só se interessou pela filha, após esta exercer seus poderes sobre Anja, afim de rechaçar a opção sexual da filha. 

O final apoteótico, com diretos a chamas sobre um lago para expurgar os pecados, pode ser considerado exagero, mas é condizente se analisarmos o todo. Um filme rico em metáforas, com atmosfera envolvente e muito bem conduzido. Mais uma bela surpresa escandinava.

Crítica por: Fabio Yamada

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