"RUA DO MEDO 1994 - 1978 - 1666" - 2021
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Uma trilogia de terror adolescente inspirada em clássicos do terror dos últimos 50 anos. Leigh Janiak, a criadora dessa trilogia, optou por lançar os filmes em uma ordem cronológica reversa, os acontecimentos de 1994 são moderadamente explicados pelo que ocorre no filme de 1978 e ambos são decorrentes do que aconteceu em 1666. Essa idéia de inverter poderia ser mais interessante se os filmes referenciados também obedecessem uma direção de ordem cronológica, anterógrada ou retrógada, mas não é bem isso que acontece e tudo vira uma mistura de referências, aparentemente respingadas pelo roteiro dos três filmes.
A partir do primeiro filme começamos a acompanhar as aventuras de Deena (Kiana Madeira), seu irmão Josh (Benjamin Flores Jr.) e Samantha (Olivia Scott Welch). O trio descobre uma ossada por acaso no meio da floresta e isso acaba por desencadear uma série de homicídios que tem como palco principal um modesto shopping da cidade. Fica evidente a tentativa de homenagear filmes como a franquia “Pânico" criada por Wes Craven e “Madrugada dos Mortos”, o filme de Zack Snyder que marcou o retorno do universo zumbi para tela grande do cinema.
Após uma cena inicial, que replica um assassinato do “Pânico" com direito a câmera lenta, correria, mascara de caveira e punhalada no peito, protagonizada por ninguém menos que Maya Hawke (filha de Ethan Hawke e Uma Thurman), o filme ganhas contornos modernos com um casal lésbico assumindo protagonismo da história, sem nenhuma menção de preconceito ou discriminação, simplesmente um casal como outro qualquer aceito em seu meio de convívio.
No segundo filme, que tenta explicar a origem dos assassinos imortais relacionada a lenda de uma antiga bruxa local, Sarah Fier (Elizabeth Scopel) que aparentemente inscrevia o nome das vítimas que seriam possuídas e tornariam-se os assassinos sobre o controle da maldita bruxa. Retornamos para um acampamento local, onde as irmãs Ziggy (Sadie Sink) e Cindy (Emily Rudd) assumem o protagonismo da história ao lado de outros personagens como Alice (Ryan Simpkins), Tommy (McCabe Slye) e Nick Goode(Ted Sutherland).
O cenário do camping para adolescentes com um lago reconstrói perfeitamente o famoso Cristal Lake, onde o famigerado Jason fazia suas vítimas. A diretora não poupa ninguém criando um assassino que utiliza seu machado para esquartejar até mesmo as crianças do primário. O ponto forte do segundo filme está numa melhor ambientação dos personagens, através da criação entre a rixa entre as duas cidades vizinhas, Shadyside e Sunnyside e claro o drama entre as duas irmãs protagonistas fazendo com que o espectador começa a se importar um pouco com a trama, além dos assassinatos de personagens descartáveis.
No último filme da trilogia somos surpreendidos pela qualidade estética e pela direção de arte, que consegue recriar satisfatoriamente o ambiente do século XVII, onde através de uma viagem astral de Deena, ela incorpora no corpo da bruxa Sarah Fier e descobre a verdade sobre a maldição da bruxa.
Além da qualidade estética, com referência evidente ao filme “A Bruxa” de Robert Eggers, estamos diante de um ambiente extremamente machista, onde a simples recusa de uma mulher ao desejo de seu pretendente é desculpa para queimá-la na fogueira. Agora imagine, se a tal bruxa repressora ainda tivesse desejos sexuais pela melhor amiga, isso representa o apocalipse na terra.
Sendo assim, descobrimos a verdadeira trama que desencadeou o enforcamento e amputação da mão de Sarah Fier, além é claro da revelação do verdadeiro vilão da trilogia. Na segunda metade do filme, retornamos a 1994, época do primeiro filme, onde Deena e seu irmão tem que lidar com os assassinos imortais que farejam o sangue de suas vítimas. Se a primeira parte consegue encher os olhos do espectador, a metade final volta a ser sofrível e com um desfecho anticlímax, que não satisfaz de forma alguma quem percorreu três filmes em décadas e até séculos diferentes afim de acabar a maldição de um bruxa e consumar o desejo entre duas amantes lésbicas.
Crítica por: Fabio Yamada.
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