Crítica: Gêmeos - Mórbidas Semelhança

"GÊMEOS - MÓRBIDA SEMELHANÇA” - 1988

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Um dos filmes mais impactantes de David Cronenberg e olha que foram muitos. Aqui ele mistura todos os elementos frequentes em seus filmes, obsessão pelo sexo exacerbado, deformidades físicas ligadas ao caráter humano, a tecnologia (aqui a medicina) transformando a matéria humana e uma crueldade sem limites.

Na história temos dois gêmeos idênticos interpretados por Jeremy Irons (perfeito), Beverly mais introvertido e sensível e Elliot mais extrovertido e manipulador. Os dois são ginecologista da alta sociedade novaiorquina. Eles moram juntos e compartilham tudo, pacientes, mulheres, honrarias e refeições. Aparentemente eles tem o mesmo gosto para tudo, gostam das mesmas coisas. Essa relação quase incestuosa e simbiótica parece indestrutível. No entanto, surge uma paciente Claire (a pouco valorizada Geneviève Bujold), que é uma atriz frágil que deseja engravidar, no entanto, ela tem uma deformidade rara, um útero com três cornos. Acredito que essa deformidade interna é uma metáfora para os desvios de personalidade. Ninguém nunca pensa em deformidades orgânicas internas, somente os médicos. A maior parte das pessoas tem medo das deformidade estéticas externas.

Os dois irmãos se revezam entre encontros e transas com Claire, que acredita estar se relacionando apenas com Beverly e nem sabe da existência de um irmão gêmeo e muito menos desse tipo de jogo.

Beverly se apaixona perdidamente por Claire, enquanto Elliot encara ela apenas como um passatempo. Esse disparidade de desejos cria uma fissura entre os irmãos. Levando Beverly a uma espiral de autodestruição com abuso de drogas entorpecentes anestesiar seus impulsos, que acaba por impactar o desempenho profissional dos irmãos. Elliot começa a desenvolver instrumentos cirúrgicos para corrigir a deformidade de Claire, afim de transforma-la em uma mulher normal. No entanto, o elo entre os dois irmãos acaba sendo um caminho e ida e volta, com Beverly influenciando a capacidade mental de Elliot. Os dois acabam realizando uma cirurgia para uni-los fisicamente (siameses) com a intenção de que após a união física seus desejos e pensamentos retornem a um equilíbrio, tornado-se uma única personalidade. Um filme perturbador e visualmente magnífico, que aposta em cenários claustrofóbicos e abuso da cor vermelha para incomodar o espectador.

Crítica por Fabio Yamada.

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