Crítica: "Falando com Deuses"

 "FALANDO COM DEUSES” ou “WORD WITH GODS” - 2014

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O filme é uma coletânea de nove curta-metragens de diferentes países (Austrália, Brasil, Índia, Japão, Israel, Iran, Sérvia, Espanha e México). Cada curta representa um país e uma religião diferente, tentando demonstrar como cada cultura trabalha sua relação com Deus.

Cada um dos filmes apresentam diferentes abordagens e linguagens narrativas com resultados muitos diferentes e irregulares. No primeiro que destaco, dirigido por Hideo Nakata (Japão), conta  a história de um pescador que perde toda a família no tsunami de 2013 e tem dificuldade em aceitar o fato de continuar vivo. No curta brasileiro dirigido por Hector Babenco, Chico Diaz faz o papel de um mendigo que sofre na mão de Bárbara Paz, mas encontra abrigo em um ritual de fé. 

No curta sérvio, dirigido por Emir Kusturica (vencedor de duas Palmas de Ouro), temos uma série de sequências poéticas com imagens de paisagens da região árida dos balcãs preenchidas pelo silêncio, num filme sem diálogos. Retratando o dilema de um monge que se auto-flagela, na tentativa de falar (ou acreditar) em Deus após vivenciar os horrores da guerra.

O diretor iraniano Bahman Ghobadi aborda com humor a história de dois irmãos siameses, um acredita encontrar deus em rituais dentro da mesquita enquanto o outro consegue enxergar deus nas ações do cotidiano. Duas formas bem distintas de religiosidade, enquanto um realiza suas orações com olhos voltados cima o outro tem seus olhos voltados para o chão. O muçulmano moderno deve aprender a lidar com essas duas visões diferentes para conseguir equilibrar as novidades do mundo e sua religião.

O curta do espanhol Álex de la Iglesia trata com muito humor as desventuras de um assassino, que durante uma noite é confundido com um padre. Após várias reviravoltas ele acaba recebendo ritos de extrema unção de um velho moribundo em seu leito de morte.

O filme termina com o curta do mexicano Guillermo Arriaga. Fala sobre o ateísmo e aborda o desespero de se viver em um mundo sem Deus. Trabalha de forma poética a morte de Deus perante os homens, referindo que Deus se matou por estar cansado dos homens e de suas agressões a natureza. A morte de Deus é ilustrada através de uma chuva de sangue. Uma pergunta que pode ficar na cabeça de quem me conhece é, por qual motivo um ateu convicto como eu, escolheria um filme sobre religiosidade para realizar uma crítica? Vou utilizar então o mesmo argumento que o produtor mexicano utilizou. Segundo ele, escolheu falar sobre o tema por sentir-se perseguido justamente por ser ateu e por isso, acusado de ser uma pessoa sem valores. “Eu não olho para o céu procurando por Deus e nem entro em igrejas para ouvir a palavra de Deus. Olho direto nos olhos das outras pessoas procurando a nossa humanidade."

Crítica por: Fabio Yamada.

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