Crítica: Modern Love

"MODERN LOVE" - 2021 

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A segunda temporada da série de TV bem-sucedida criada por John Carney, diretor irlandês responsável por pérolas como “Mesmo se Nada Der Certo” ou “Apenas Uma Vez”, consegue emocionar e encher de otimismo o coração dos espectadores, mesmo que não acerte em todos os episódios.

Logo no começo, o primeiro episódio me pegou de assalto, completamente desprevenido acionando algum gatilho emocional que provocou um intensa crise de choro em mim. Em “On a Serpentine Road, with the Top Down”, a dedicada médica Stephanie (Minnie Driver fantástica) está com problemas com seu velho carro tipo esportivo, o qual ela insiste em utilizar no caminho entre sua casa e o trabalho. O enguiça sempre e a cada conserto lá se vão € 1.200,00. Seu marido Niall (Don Wycherley) insiste para que ela venda o conversível. Aos poucos vamos descobrindo o verdadeiro motivo pelo qual ela insiste em manter o automóvel. A cena na qual Stephanie revela para o marido que são durante seus percursos no carro sozinha que ela consegue se conectar com o ex-marido morto e a contra-partida do marido é estarrecedoramente emotiva.

O episódio que em tese deveria ser o carro chefe da temporada “Strangers on a Train”, onde Paula (Lucy Boyton) e Michel (Kit Harrington) se encontram em um trem em Dublin durante o retorno para as casas da família de ambos após um aparente incidente que paralisou momentaneamente os serviços no começo de 2020 é constrangedor. A idéia de se utilizar da pandemia para funcionar como obstáculo para o reencontro romântico dos dois personagens até pode parecer criativo em primeira instância. No entanto, as decisões e ações dos personagens que tentam a todo custo se reencontrar ultrapassando barreiras sanitárias apenas por que decidiram não trocar nomes ou telefones soa antiquada e negacionista, bem ao gosto de determinado tipo de público conservador.

O último episódio “Second Embrace with Hearts and Eyes Open” pode ser considerada a mais amadurecida das histórias, trazendo uma idéia de que somente após o fogo da paixão esfriar podemos conseguir enxergar e sentir o verdadeiro amor, que tem muito mais a ver com enxergar as limitações e qualidades do outro do que em satisfazer as próprias necessidades ou demandas. O casal formado por Van (Tobias Merzies) e Elizabeth (Sophie Okomedo) que já foram casados e tem duas filhas em comum voltam a se encontrar e se apaixonar após cada um deles conseguir realmente se abrir para o outro.

Alguns episódios são belos e comoventes como “The Night Girl Finds a Day Boy” e “A Life Plan for Two Followed by One”, outros apenas esquecíveis como “Am I …? Maybe This Quiz Tell Me” e “In the Waiting Room of Estranged Spouses”, com este ultimo desperdiçando a maravilhosa Anna Paquin e o belo Garret Hedlund. Outro ficam no meio termo, ousados em sua estrutura mas previsíveis na conclusão como “How Do You Remember Me?”, incorrendo no risco de serem preconceituosos sobre uma visão antiquada do amor e sexo homossexual.

O episódios em si são muito díspares entre si, o que não chega a ser ruim, mas o resultado que cada um alcança variam muito, do medíocre ao maravilhoso. Gerando uma montanha russa de emoções no espectador, no entanto, a série não expressa realmente essa temática de amor moderno, séries como “Sense8” ou “Soulmates" foram muito mais felizes ao retratar essa modernidade emocional dos nossos tempos. Fico com a tendenciosa impressão de que os casais amoroso que não estão em conformidade com a maioria heterossexual e branca só estão ali para justificar o “Modern" e não exatamente para serem representados com o devido cuidado e respeito. No entanto, isso pode ser somente uma impressão pessoal, nada panfletário ou reacionário.

Crítica: Fabio Yamada

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