"O LEGADO DE JÚPITER" - 2021
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Mais uma série de super-heróis que tenta desconstruir a imagem dos seres super-poderosos mas que fica abaixo do esperado quando comparada a outras obras do gênero.
Como nunca fui muito fã de super-heróis, tenho verdadeira ojeriza pelo universo Marvel, geralmente aprecio as produções que tentam desconstruir essas entidades. No entanto, essa nova produção, que prometia ser o “The Boys” da Netflix entrega um roteiro muito mais sóbrio e contido que a concorrente Amazon.
A série acompanha uma série de personagens em duas épocas paralelas, a época atual e a década de trinta (durante e depois da queda da bolsa de 1929. No entanto, apesar de surgirem algumas discussões políticas relevantes durante alguns diálogos entre os personagens, isso se perde em meio a tramas paralelas superficiais.
A idéia de termos duas histórias em linhas temporais diferentes seria um trunfo importante se o roteiro demonstrasse melhor o pareamento histórico e político das duas épocas. Não utilizando a história de época somente para mostrar a origem dos poderes desses super-heróis, que diga-se de passagem, as etapas de obstáculos na “Ilha da Caveira” a lá Indiana Jones são constrangedoras.
No início do século, acompanhamos a história de Sheldon (Josh Duhamel) e Walter (Ben Daniels), dois irmãos filhos de um empresário que se suicida devido a crise da queda da bolsa. Sheldon começa a ter um chamado através de alucinações que envolvem o pai com o rosto esmigalhado e a reunião de seis indivíduos que devem navegar até o meio do Oceano Atlântico, próximo as Ilha Canárias, em busca de uma ilha misteriosa ou da cura de suas dores.
Na época atual, Sheldon vestido com uniforme branco, capa vermelha e uma maquiagem ridícula transformou-se em Utópico, a jornalista Grace (Leslie Bibb) transformou-se na submissa Lady Liberty, que se casou com Sheldon e teve dois filhos, Brandon (Andrew Horton) e Chloe (Elena Kampouris). Walter transformou-se no grisalho Brainwave e George (Matt Lanter), amigo de infância de Sheldon, transformou-se no vilão mascarado Skyfox.
Esse grupo de amigos super-heróis fundou uma espécie de Liga da Justiça, chamada de União, cujos os integrantes seguem um código criado pelo controlador Sheldon, no qual não é permitido matar nenhum vilão, assumir algum lado político ou comando governamental e intervir em guerras internacionais. Esse heróis envelheceram com o tempo e seus filhos seguiram o caminho dos pais, com exceção de Chloe, que transformou-se numa modelo fotográfica.
A grande discussão da série é em torno da validade dos dogmas criados por Utópico para os dias de hoje, onde não existem mais uma clara distinção sobre quem são os verdadeiros vilões, se é que algum dia houve. Se na juventude acreditamos piamente em nossas resoluções de vida ou num mundo utópico, com o passar do tempo começamos a enxergar melhor a realidade ou podemos dizer que passamos a julgar os outros com menos rigidez. No entanto, para alguns isso torna-se uma desculpa para se comportar cinicamente e alargar perigosamente seus limites éticos em benefício próprio com a desculpa de ajudar o próximo, ou no caso de super-heróis, de salvar o mundo.
Se a produção acerta nesse discurso sobre as mudanças do tempo ou sobre como o tempo influi em como enxergamos a realidade a nossa volta, ela falha justamente na forma como coloca esse discurso em prática. A série nos entrega um produto monótono e pobre visualmente, não que os efeitos visuais não sejam bons, mas temos a impressão de estarmos diante de um filme B o tempo todo. Talvez alta qualidade de produção de séries concorrentes como “Watchmen" ou “Deuses Americanos” que além de apresentarem uma história muito mais envolvente e inteligente, com múltiplas camadas narrativas, apresentam um cuidado estético que não encontramos nesse seriado.
A reviravolta final da primeira temporada que deveria nos alçar para a segunda temporada, aguçando nossa curiosidade, acaba por perder sua força devido a construção irregular e repetitiva dos personagens das sequências de época. O trio de super-heróis envelhecidos não conseguem manter o interesse do público e os personagens de Chloe e seu namorado Hutch (Ian Quinlan) acabam por ser o casal mais interessante da primeira temporada, mesmo sendo personagens secundários nessa primeira etapa.
Uma verdadeira bomba que ao invés de questionar efetivamente os discursos dos supostos heróis que tanto aprendemos a admirar, consegue transformar visualmente os super-heróis em seres ultrapassados. Isso até que poderia ser um elogio para equipe de direção de arte, se fosse o caso da estética visual auxiliando na narrativa, mas na verdade estamos diante de um produto visual pobre narrativamente não condizente com a época de ouro da TV ou do streaming.
Crítica por: Fabio Yamada
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