Crítica: Fatma

"FATMA" - 2021


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Uma bela produção turca que se utiliza da estrutura do melodrama e de uma adorável personagem trágica para contar uma história cheia de suspense e reviravoltas, onde os mistérios são revelados em camadas.

Alguns espectadores podem encarar a série como a história de uma faxineira Fatma (Burcu Biricik fantástica), que abandonada pelo marido e em luto pelo filho autista transforma-se em uma serial killer. No entanto, o roteiro é muito bem elaborado e amarrado com vários detalhes que revelam tratar-se de uma história muito mais profunda sobre personagens invisíveis dentro da nossa sociedade.

Muitas vezes, os roteiristas ficam quebrando a cabeça tentando criar personagens que tenham o potencial de fornecer vários núcleos de histórias com narrativas procedurais, então surgem as séries médicas, policiais, socorristas, mas nunca pensamos em contar a história pouco glamurosa de uma faxineira.

Numa sociedade muçulmana, onde as mulheres não tem valor caso estejam desacompanhadas, a nossa protagonista sofre todos os tipos de injustiças e humilhações, desde patrões que a ignoram a vizinhos que a assediam. Fatma é aquele tipo de personagem que sofre todo tipo de violência para poder gerar empatia com o publico, para assim justificar o que virá pela frente. Ela se torna uma justiceira assassina improvável, pela qual torcemos até o último momento.

A trama apresenta alguns furos, pois não se preocupa com questões técnicas periciais de investigação ou em como nos dias de hoje a tecnologia não seja capaz de identificar a assassina, mas tudo isso é um tipo de licença poética para que possamos acompanhar a jornada de nossa anti-heroína ou a Promessa da Virgem.

Na verdade, somos apresentados até a um personagem secundário, um dos patrões de Fatma que escreve um romance sobre a saga de Fatma, no entanto, os editores ironicamente rechaçam o manuscrito, pois afinal quem estaria interessado na história de uma faxineira.

Fatma tenta de todas as formas encontrar seu marido, tenta falar sobre sua vida com todos a sua volta sem que ninguém a escute, suplica para que olhem para ela e a enxerguem durante toda a série. A personagem deseja a todo custo encontra Zafer, seu marido, mas na verdade o que ela realmente necessita é se encontrar e parar de fugir dos traumas de seu passado.

Uma bela produção turca, com uma fotografia muito bem cuidada, uma bela direção de arte e montagem empolgante, além de um elenco afinado liderado pela carismática Burcu. Uma bela surpresa da Netflix, muito diferente das novelas turcas. 

Impossível não se emocionar com os dilemas dessa querida faxineira, não se surpreender com cada assassinato e não torcer por pela improvável felicidade dessa personagem invisível.

Crítica por: Fabio Yamada

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