Crítica: Calls

 "CALLS" - 2021

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Uma inovadora minissérie da Apple TV com nove episódios curtos que se assemelham a audiodramas, trazendo a tona a importância do som, o ritmo e os tons dos diálogos e obviamente as pausas silenciosas para a criação de um produto audiovisual. No entanto, na tela vislumbramos imagens abstratas associadas curvas de frequência das vozes, além das legendas que pontuam os diálogos. Não visualizamos nenhuma cena concreta, personagem ou cenário. Tudo isso fica a cargo da nossa própria imaginação que se esforça ao máximo para dar conta dos acontecimentos relatados por essas vozes.

Na história em si de cada episódio, temos dois ou mais personagens interagindo por em média 16 minutos durante chamadas telefônicas. Os relatos de cada episódio são tensos e assustadores, lembrando as vezes “Além da Imaginação” ou capítulos recentes de “Black Mirror”.

A série originalmente criada para a TV francesa por Timothée Hochet, na versão americana ficou a cargo de Fede Álvarez, o cineasta uruguaio que dirigiu a refilmagem de “Evil Dead” consegue criar o máximo de tensão com simples variações de cores e formas na tela associadas aos diálogos potentes dos atores. Incrível como ele consegue captar esse potencial do som através de simples ligações telefônicas, ainda mais numa sociedade que desaprendeu de falar ao telefone, que realiza video chamadas, grava mensagens curtas no WhatsApp ou quando muito manda mensagens de texto com abreviações múltiplas e muito emojis.

inicialmente, as histórias parecem soltas no tempo e no espaço, quase que sem nenhum ponto de interligação entre elas, mas muitas surpresas são reservadas ao espectador com o passar dos episódios. 

A capacidade que nossa mente tem de recriar mundos e situações através do costumes das histórias orais é absurdo. O mais surpreendente é como nós espectadores conseguimos nos identificar muito mais com um personagem através da voz, do quando esse personagem tem um rosto. Aqui, inicialmente nenhum personagem tem cor de pele, apenas alguns sotaques que conseguimos identificar. A maior parte dos nomes são apenas apelidos, sem nenhum sobrenome. Não nos é oferecido nenhum indício de classe social ou grau de instrução, são pessoas comuns ou lacunas em branco que preenchemos com nossa imaginação, ou se assim quisermos, com nós mesmos.

Uma aposta arriscada e surpreendente que apenas um serviço de streaming seria capaz de bancar. Uma inovação que pode ter uma vida curta, mas que só por ter sido produzida, mesmo que por apenas uma temporada já terá valido a pena. Uma prova de que ainda existe espaço para inovação nesse meio de trabalho, mesmo que inspiradas em coisas tão antigas e bregas como as rádio-novelas.


Crítica por: Fabio Yamada

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