"DEUSES AMERICANOS" - 2017-2021
Um seriado belo e pretensioso baseado na magnífica obra de Neil Gaiman, um livro de mais de 500 páginas recheados de mitos e folclores de muitos povos e culturas de todo o globo.
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O livro lançado em 2001 foi um sucesso estrondoso de público e crítica, vencendo vários prêmios da crítica especializada como “Hugo” e “Nebula”. A idéia do romance, segundo seu autor, surgiu da sua condição de imigrante inglês residindo nos USA e de sua necessidade de entender o comportamento e as crenças do povo dito americano, que assim como os brasileiros tem uma população quase que completamente oriunda de povos estrangeiros.
Muitos criticaram e desconfiaram assim que souberam sobre a adaptação televisiva da obra, justamente pelo livro conter cenas e sequências quase que impossíveis de serem convertidas em imagens, além de conter uma história tão rica em acontecimentos, que jamais poderiam ser condensadas em um filme de duas ou três horas. No entanto, a primeira temporada a cargo de Brian Fuller e Michael Green nos brindou com personagens magníficos e cenas inesquecíveis, dando um ponta pé inicial sensacional para a série.
A história mistura fantasia e realidade, versa sobre um estranha (e muito aguardada) guerra entre deuses antigos oriundos dos mais diversos povos imigrantes contra deuses modernos, decorrentes de nosso comportamento, adorados e consumidos pela sociedade atual.
O protagonista Shadow (Ricky Whittle sedutor) que se encontra enclausurado na prisão, descobre que sua esposa Laura Moon (Emily Browning sempre competente) faleceu em um acidente de carro, no qual estava acompanhada do amante que também era o melhor amigo de Shadow.
Shadow retorna para sua antiga casa, agora vazia, sem saber direito o que sentir pela esposa falecida e muito menos o que fazer da própria vida. Nosso protagonista, um homem taciturno e descrente, acaba por conhecer Sr. Wednesday (Ian McShane fantástico), que lhe propõe um trabalho que inclui ser seu motorista e ao mesmo tempo guarda-costas. Wednesday deseja cruzar o território americano de costa a costa a bordo de sua veículo que apelida de Beth.
Após algumas discussões, brigas e hesitações, Shadow acaba embarcando nessa aventura, mesmo sem nunca saber os propósitos misteriosos de seu empregador que modifica constantemente o itinerário de suas viagens.
Paralelamente, somos apresentados as histórias de inúmeros personagens fabulosos como: Mad Sweeney (Pablo Schreiber) um imenso duende que dá por engano uma moeda mágica para Shadow que acaba por ressuscitar Laura; Bilquis (Yetide Badaki) um antiga deusa africana que simboliza a fertilidade e que literalmente devora os homens; Jinn (Mousa Kraish) um sedutor deus com olhos de fogos que se apaixona por seu adorador Salim (Omid Abtahi); Mr. World (Crispin Glover) um deus moderno que lidera o movimento contra os deuses antigos; Technical Boy (Bruce Langley) o atrapalhado deus da tecnologia que não dá uma dentro; Czernoborg (Peter Stormare) um antigo deus eslavo que trabalha como açougueiro e deseja arrancar a cabeça de Shadow; Media (Gillian Anderson e Kahyun Kim) deusas que simbolizam os meios de comunicação; Mr Ibis (Demore Barnes) e Mr Nancy (Orlando Jones) que são antigos deuses egípcios que se transformam em aves. Além de participações especiais de deusas que se transformam em estrelas, uma deusa da primavera Easter (Kristin Chenoweth), um antigo deus Tyr (Denis O’Hare) e vários Jesus Cristos das mais diversas formas e cores em um capítulo inesquecível.
A produção impecável associada a uma montagem, fotografia e direção de arte perfeitas transformam a experiência do espectador em uma viagem extremamente rica pela cultura e mitologia criada por Neil Gaiman. Apesar dos percalços sofridos durante os intervalos entre as três temporadas, com mudanças dos showrunners a cada nova temporada e abandono de vários atores do elenco, devido divergências profissionais e de visão artística ou dilemas éticos e morais, o produto entregue pela Starz e exibida pela Amazon no Brasil revela-se uma obra de poder visual intenso condizente com o magistral poder criativo e cenográfico das palavras de Neil Gaiman.
Crítica por: Fabio Yamada.
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