Crítica: Bom Dia, Verônica

"BOM DIA, VERÔNICA" - 2020

Um seriado brasileiro sobre a rotina em uma delegacia policial que nessa temporada priorizou o universo da violência doméstica, relacionamentos abusivos e personagens misóginos.

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A protagonista da história é a escrivã Verônica (Tainá Müller) que trabalha na delegacia chefiada pelo delegado Carvana (Antônio Grassi). Os outros funcionários são Nelson (Silvio Guindane), um hacker que tem uma queda pela protagonista, Prata (Adriano Garib), um legista homossexual com um lado paternal, e Anita (Elisa Volpato), uma delegada mau-caráter que pega no pé de Verônica. Resumindo, praticamente é SVU - Law & Order às avessas (a protagonista lembra até o visual da Mariska Hargitay).

No entanto, as semelhanças param por ai, logo nas cenas iniciais uma vítima se suicida no meio da delegacia, com direito a respingos de sangue no rosto da protagonista. Logo de cara, ficamos sabendo que o pai de Verônica, um delegado acusado de corrupção matou a esposa e tentou se matar.

Verônica é casada com Paulo (César Mello) com quem tem dois filhos Lila (Alice Valverde) e Rafa (Dj Amorim). Ela fica obcecada com o caso da vítima que se matou na sua frente e descobre que ela foi enganada e dopada por um cara que conheceu em um site de encontros. Uma queimadura na boca da vítima indica o uso de uma droga semelhante a do Boa noite Cinderela (lembrando um pouco outra série brasileira o Boca a Boca). Não demora para descobrir sobre outras vítimas do misógino que adora utilizar codinomes de origem italiana. Anita faz tudo para acabar com a investigação de Verônica, justamente por acreditar que esse tipo de mulher carente merece ser enganada mesmo.

Uma trama paralela mostra a vida de Janete (Camila Morgado maravilhosa) casada com o capitão da policia militar Brandão (Eduardo Moskovis excelente), que vive uma relação abusiva com o marido. Ela não pode sair de casa, ela não pode telefonar para a família, sente-se culpada por não conseguir dar um filho para o marido (ela acabou de sofrer um aborto) e vive sob constante tensão dentro de casa.

A direção de arte responsável pela construção do universo de Janete e Brandão é maravilhosa, um detalhamento e uma sensibilidade poucas vezes vista na TV brasileira. Nada é por acaso, as cores dos cenários, cada cômodo com uma cor predominante associada ao figurino dos atores, geralmente ele de verde e ela de vermelho, fazendo alusão como se ela fosse uma intrusa naquele ambiente. Com o decorrer da trama, os figurinos vão mudando conforme ela vai se envolvendo nas tramas e nos problemas do marido.

Ao final do primeiro capítulo temos a grande revelação sobre o personagem de Janete que recebe o irônico apelido de passarinho do marido, talvez justamente por viver em uma gaiola.

A história se desenvolve principalmente a partir de quatro tramas, a rotina de Verônica na delegacia, os dilemas familiares de Verônica (com direito a percalços de sua filha que sofre bullying), a trama paralela com os infortúnios de Janete (que acaba por pedir socorro para Verônica) e uma trama misteriosa que atravessa toda temporada sobre um esquema de corrupção dentro da delegacia (teoricamente o eixo mais fraco e desinteressante da história). Todas as outras três tramas conversam entre si, através dos temas centrais da série, tudo bem encaixado.

No entanto, dramas de delegacia já vimos antes, uma policial corajosa e petulante também (SVU, The Killing e até a saudosa Kate Mahoney), série sobre abusos sexuais também aos montes, intrigas políticas e policiais corruptos também aos montes. No entanto, essa dinâmica entre vítima e agressor, com essa vítima que transita entre o bem e o mal, flertando com a cumplicidade pelo marido agressor e se escondendo por trás de uma suposta ignorância da totalidade dos fatos. Tudo isso coroado pelas inspiradas interpretações de Camila Morgado e Eduardo Moscovis.

No entanto, fica a ressalva sobre o final da temporada, que abre um leque de possibilidades para a protagonista, mas ao mesmo tempo fecha os ciclos das tramas principais que tanto apreciamos na primeira temporada. Será preciso construir toda uma nova dinâmica para atrair o olhar do espectador, já que a única trama que restou é sobre uma organização criminosa misteriosa infiltrada na polícia, na justiça e na política, como eu disse acima, justamente a mais desinteressante. 

Torcemos para uma nova história empolgante e intrigante, que se equipare a trama vivida pela nossa querida passarinha em sua gaiola.


Crítica por: Fabio Yamada

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