"TENET" - 2020
Mais um filme pretensioso e esnobe de Christopher Nolan que tenta criar o impossível com base nos conhecimentos científicos de hoje.
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Muitos filmes já falaram sobre viagem no tempo, desde o clássico oitentista “De volta para o Futuro” até o cult conceitual “Primer”, passando pelo delicioso “Feitiço do Tempo”. No entanto, apesar de alguns deles tentarem explicar parcialmente o funcionamento da máquina do tempo, nenhum cai na armadilha de tentar esmiuçar seu mecanismo e ainda mais expressa-lo em diálogos que tomam mais metade do filme. Tirando isso, a outra metade do filme é boa.
Visualmente e sonoramente, o filme tem uma potência avassaladora, mas o ritmo da narrativa tem que dar tempo para as pausas explicativas. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo (e voltando a acontecer) que não existe tempo para criarmos empatia com os protagonistas.
A idéia de colocar um ator negro (John David Washington) como protagonista, uma espécie de 007 e sem em nenhum momento fazer menção a sua cor é muito interessante, por que afinal de contas um personagem branco não precisa ter uma justificativa narrativa para ser branco, um personagem negro ou amarelo também não precisa ter, isso é inclusão e diversidade.
No entanto, a falta de cuidado com os arcos narrativos de cada personagem, despejando tudo ao mesmo tempo para acelerar os acontecimentos, para caberem todas as cenas de ação mais todas as explicações científicas, alternam momentos de ação deslumbrantes com diálogos maçantes. Ao final, pouco estamos nos importando com o que acontece com cada personagem ou com cada versão de personagem.
Chega uma hora do filme, que o espectador desiste de tentar entender as teorias sobre esse universo distópico e sobre a inversão da entropia dos elementos, ignorando os diálogos expositivos dos protagonista. A partir desse momento, o filme deslancha, conseguimos apreciar melhor a personagem Kat (Elizabeth Debicki linda) e sua relação abusiva com o antagonista Sator (Kenneth Branagh sempre competente).
No entanto, estamos novamente diante do roteiro de sempre mocinho está entre o dilema de salvar o mundo ou salvar a mocinha, mocinho consegue salvar o mundo mas não pode ficar com mocinha. Tanta parafernália sobre lapsos temporais para contar a mesma história de sempre.
Talvez se o conteúdo da narrativa tivesse de alguma forma conectado com a forma da narrativa estaríamos diante de uma grande obra, mas a impressão que fica é mais do mesmo. E olha que eu adoro esse universo de realidades paralelas e lapsos temporais.
Na história típica dos filmes das franquias 007 e Missão Impossível, tem o início com um prólogo de ação com o protagonista está em meio a invasão de um concerto na Ucrânia. Logo após já vemos ele em Bombaim, uma breve para em Oslo, seguindo para Costa Amalfitana e finalmente as ruas de Tallin.
Todos esses deslocamentos, para tentar descobrir sobre uma munição com força de entropia invertida, que retorna para arma que disparou ao invés de ser disparada. Nessa empreitada ele vai atrás de Priya (Dimple Kapadia), uma contrabandista indiana de armas e descobre o envolvimento de Sator, um milionário russo que abusa da mulher Kat. Num hilário encontro com Crosby (Michael Caine), ele descobre como se aproximar de Sator e sobre seus problemas pessoais que envolvem uma falsificação de um quadro de Goya. No meio disso tudo, ainda existe espaço para a inserção do personagem Neil (Robert Pattinson), que vai travar os malfadados diálogos expositivos sobre os lapsos temporais.
Um grande destaque vai para a idéia, já um pouco batida, de descobrirmos no final a intervenção dos personagens em ações que ja ocorreram no começo do filme, como se tivéssemos um novo ponto de vista da cena. Por exemplo, mostrando que a personagem de Kat realmente se tornou o que ela queria ser, uma mulher independente que pula do barco. A idéia de que ela precisou de uma segunda chance para se tornar essa mulher é paradoxal. Afinal, nem sempre temos uma segunda chance para reviver um mesmo momento. No entanto, naquele momento da história ela pode ser as duas representações dela mesma e ambas se completam como desejo de realização ou sobre duas possibilidades de vida.
No caso do protagonista, ele também vive um momento deste, no qual ele está lutando contra ele mesmo, sendo protagonista e antagonista da ação, separados teoricamente por um período de tempo, a chamada pinça temporal. Demonstrando que o tempo é capaz de nos colocar em direções opostas. Portanto, nada é imutável, tudo sofre a ação do tempo, o que pensamos hoje não serão as mesmas conclusões que chegaremos amanhã.
Para alguns o tempo é uma ilusão, que pode ser manipulada, esticada ou estendida conforme a nossa vontade ou percepção. Esse filme por exemplo, para alguns pode durar uma eternidade, para outros pode passar num segundo, que se repete eternamente.
Crítica por: Fabio Yamada
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