Crítica: SUSPÍRIA: A DANÇA DA MORTE

 "SUSPÍRIA: A DANÇA DA MORTE” - 2018

Um remake maravilhoso do clássico filme de terror giallo de Dario Argento. No entanto, são poucos os pontos de intersecção entre os dois filmes.

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No filme original de 1977, Susy Bannion, um bailarina americana chega a famosa escola de ballet em Berlin, onde vários crimes acontecem e Susan acaba descobrindo tratar-se de um covil de bruxas. Um clássico com fotografia e direção de arte magnífica associada a uma trilha sonora marcante. Um espetáculo de dança, música e terror.

Somente o fato de unir uma atmosfera de terror a dança do ballet já justificaria o mote do filme. Construir o horror através da dança do ballet, uma magnífica manifestação de arte que se utiliza do esforço físico, dor e repetição para transmitir uma idéia de beleza e leveza, é fantástico.

No entanto, o filme de Luca Guadagnino vai além, ele se utiliza de várias espectros da maternidade para falar sobre a origem do mal. Ele compara os simbolismos, rituais e manipulações do nazismo com uma instituição matriarcal criada por bruxas. Ele compara as teias, discursos, representações e justificativas do nazismo com os feitiços e encantamentos utilizados pelas bruxas para distorcer a realidade e angariar novos receptáculos ou discípulos, utilizando-se da cultura, história e arte para disseminar suas crenças. Como criar e reciclar a monstruosidade do mal na humanidade? Somente as mães tem esse poder de criar discípulos cegos e os ditadores se utilizam da representação de uma grande nação para justificar e consolidar suas teorias. O velho e bom nacionalismo.

Não se enganem, não estamos diante de um filme de terror e muito menos sobre um filme sobre bruxas que gostam de ballet e que nos intervalos gostam de massacrar alunas. Estamos diante de um filme extremamente político, que se utiliza da divisão da Alemanha após Hitler, com toda a culpa e vergonha da população, cujo governo tenta de todas as formas repreender e destruir manifestações e atos políticos considerados nocivos, como os do grupo Baader- Meinhof.

Um filme belíssimo que mostra a beleza da dor, com representações magníficas de suas protagonistas, num elenco quase que todo feminino (até os papéis masculinos são feitos por mulheres). Tilda Swinton em dose tripla, Madame Markus, Madame Blanc e o psiquiatra Dr. Klempere. Jéssica Harper (a Susan Bannion da primeira versão) fazendo o papel de Anke, esposa perdida do psiquiatra. Dakota Johnson está espantosamente bela fazendo o papel da nova Susan. Mia Goth em um papel marcante com Sara, uma das bailarinas. A única que realmente parece desperdiçada é Chloë Grace Moretz como Patrícia, a bailarina guerrilheira.

Ao final, temos um último ato extremamente gore com cenas muito violentas, lembrando ao espectador médio que sim, temos cenas de terror no filme. Mas essas cenas, servem de contra-ponto ao verdadeiro terror que foi o nazismo, cuja crueldade não precisa ser mostrada e pode ser sentida somente na narração da protagonista. 

Numa sociedade guiada pela concorrência, onde favorecemos os eleitos, onde os objetivos são atingir os extremos, onde queremos ser sempre os melhores, os mais belos, os mais fortes; fica impossível não criar uma discórdia e um abismo entre as pessoas. O verdadeiro mal nasce desse abismo, em teorias que tenta diferenciar um dos outros, tentando identificar quem é melhor ou pior. Uma mãe ou uma nação tentando privilegiar um ou outro filho, jogando uns contra os outros.


Crítica por: Fabio Yamada

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