"OS NOVOS MUTANTES" - 2020
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Um filme da franquia dos X-Men que se alterna entre filme de terror e aventura adolescente, recheado com um elenco de novos talentos do cinema, inclusive com dois atores brasileiros.
No entanto, este filme tem tudo para ser o filme derradeiro da franquia por uma série de motivos, desde os escândalos sexuais do criador da franquia Brian Singer, passando pela aquisição da Fox pela Disney e suas divergências de interesses comerciais e por consequência os cinco adiamentos de estréia durante dois anos.
O diretor Josh Boone entrega um filme retalhado e desconstruído, talvez em virtude das cenas refilmadas inseridas após o primeiro corte, que tentaram apaziguar a atmosfera soturna e perversa do corte original (nunca saberemos).
Ao final o que sobra é uma história de adolescentes com superpoderes internados em uma clínica de reabilitação psiquiátrica, exatamente o oposto do instituto do professor Xavier, chefiada por uma maléfica e ardilosa Dra. Reyes (Alice Braga).
Os internos são Rahne (Maisie Williams carismática) uma menina lobo, Illyana (Anya Taylor-Joy linda e eficiente) como uma bruxa-guerreira russa, Sam (Charlie Heaton) como um garoto cometa e Roberto (Henry Zaga) como um herdeiro brasileiro que vira o homem tocha quando excitado.
O universo perfeito desses pequenos prisioneiros é abalado com a chegada de Dani (Blu Hunt) uma latina indígena com poderes misteriosos até para ela mesma. A trama se desenvolve aos poucos entremeadas com cenas de terapia em grupo, disputas internas entre os adolescentes e piadas irritantes. O que se salva desse malhação de super-poderosas é o relacionamento entre Dani e Rahne, que chega a surpreender pela ousadia gráfica.
Alice Braga como a grande vilã vira-casaca da trama soa sofrível e incongruente como um clichê ambulante. O grande mistério da história que relaciona os pesadelos cada vez mais reais de cada um dos internos com os poderes da recém-chegada não consegue em nenhum momento despertar medo. O clima de enclausuramento e pessimismo se perde com a inserção de cenas bucólicas ao ar livre.
O tão esperado X-Men de terror se perde no meio do caminho, não sabendo se deseja ser um filme de terror com crianças ou um de aventura para crianças. Acaba por não agradar nem adultos e nem crianças. Como um amigo sempre me diz: Você precisa saber qual é o seu público alvo, afinal não dá para tentar agradar a todo mundo.
Um triste fim para uma franquia de super-heróis que defendia a diversidade e inclusão, tão necessários hoje em dia. Uma franquia que trouxe heróis inesquecíveis interpretados por grandes atores, mas que acabou se perdendo em filmes com roteiros vazios e confusos. Depois dos últimos fracassos de bilheteria fica quase impossível imaginar que a Disney aprove alguma nova produção. Melhor seria ter terminado a franquia com o melancólico e belo Logan, esse sim um filme que faria jus ao fim dessa grande franquia de super-heróis mutantes, diferentes e segregados, tão parecidos com cada um de nós.
Um vislumbre de representação de diversidade no universo dos super-heróis, onde cada poder carrega a sina de um grande defeito ou estigma. O que também serve para a via inversa onde uma grande imperfeição pode se tornar um grande poder. Como em todos os filmes da franquia X-Men estamos falando sobre controle, auto-conhecimento e aceitação, qual adolescente não passou por isso. O triste fim dos meus super-heróis preferidos.
Crítica por: Fabio Yamada
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