"ENTRE MORTES" - 2020
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Um road movie do Azerbaijão que conta a trajetória de um protagonista machista que se transforma ao se deparar com vários incidentes misóginos nos quais inspira as mulheres a lutar contra a opressão sofrida.
Davud (Orkhan Iskandarli) vive com sua mãe doente, deduzimos pelo seu comportamento no início do filme tratar-se um homem machista, que abandona a mãe passando mal e se recusa a comprar seus remédios, preferindo dar uma volta de motocicleta com a namorada afim de comprar erva.
Os dois vão até um cemitério onde realizam a compra. Dois traficantes, o chefe e o empregado discutem sobre assuntos internos, onde o empregado insulta a namorada de Davud, que reage com violência, matando-o e fugindo de moto. O chefe manda seus empregados perseguirem Davud.
Davud abandona a namorada no meio da estrada dizendo que não estão atrás dela, então que ela ficará bem. Ele continua pela estrada deserta, a paisagem árida do terreno montanhoso da Armênia, potencializam a sensação de solidão. Davud busca abrigo no curral de uma fazenda, onde encontra uma jovem aprisionada. Ele a liberta e o pai que a aprisionou tenta agredi-lo. Afim de proteger seu salvador a filha mata o pai. Davud foge em sua motocicleta. Os assassinos a sua encalça conversam com a menina que explica que Davud a ajudou. Eles a princípio não entendem a conduta da menina ter matado o pai, salvando um desconhecido.
Davud para na beira da estrada e encontra uma mulher que observa os carros na estrada. Ela conta para ele que ela é casada com um marido ciumento que constantemente a agride. Ela chora no ombro de Davud, que a conforta. O marido chega e começa a bater na esposa. Davud tenta defende-la, mas durante a luta a mulher mata o marido. Davud foge novamente. Os assassinos chegam a cena do crime e não se conformam com a esposa ter matado o marido.
Davud agora dirige pela estrada encoberta por névoas. Ele encontra uma noiva vestida de branco que fugiu de um casamento sem amor. Ela sobe na garupa de Davud e eles desaparecem na neblina. A noiva revela que se casaria para poder sustentar uma mãe doente e sua irmã. Na beira de um lago, após declarar seu amor por Davud, a noiva se mata, pois agora já tendo amado poderia morrer. Davud volta a fugir. Os assassinos agora chegam em um barco acompanhados do irmão da noiva. Inconformados, eles ligam para o chefe explicando a situação.
Davud vai até a casa da mãe da noiva prestar condolências e ajuda a mãe da noiva a se enterrar. Os assassinos recebem uma mensagem do chefe que eles devem deixar Davud livre pois se ele inspira os oprimidos a se libertarem, ele deve ser um homem de bem.
Davud enfrenta agora uma noite de frio e fome, mas encontra abrigo na casa de uma noiva que aguarda o retorno do marido da guerra, mesmo nunca tendo visto o seu rosto. Davud respeita a honra da mulher , mas não é capaz de enxergar o amor a sua frente.
Finalmente, Davud retorna livre para casa de sua mãe, carregando seus remédios. A mãe conforta o filho dizendo que sabia que ele se atrasaria em sua jornada. O filho busca água para sua mãe tomar seus medicamentos, mas ao retornar ela já está morta.
Esse cinema esculpido no tempo de Tarkovsky recheado de paisagens idílicas de um país distante rodeado por montanhas e desertos ao mesmo tempo que inebria os olhos do espectador passa uma tediosa sensação de vazio.
Esse ciclo fechado entremeado por uma série de mortes associada a personagens femininas oprimidas que tentam se libertar inspiradas simplesmente pela presença do protagonista com condutas machista que se transforma ao completar o ciclo, denota essa sociedade arcaica e conservadora.
Uma nação espremida entre a Europa, Ásia e Oriente Médio. Um povo que tenta se modernizar, olhando para o futuro, mas que ainda carrega suas feridas e vícios de um passado opressor. Um protagonista cínico cujo comportamento se modifica ao observar o sofrimento alheio, vaidoso por inspirar a bondade, mas que só se transforma com a perda. É preciso morrer um pouco a cada dia para reconhecermos nossos erros do passado.
Crítica por: Fabio Yamada
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