BAD TALES - “2020"
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Um filme italiano que busca modernizar a fábula do Flautista de Hamelin, que é baseada em uma história real ocorrida no ano 1284 durante um período de infestação por ratos, onde um flautista livra a cidade dos ratos mas tem seu pagamento negado, ele jura vingança e retorna para sequestrar as crianças, deixando para trás apenas três crianças, uma surda, uma cega e uma manca.
No filme em questão somos apresentados ao universo pré-adolescente de Dennis (Tommaso Di Cola) e Alessia (Giuletta Rebeggiani) filhos de Bruno (Elio Germano fabuloso) e Dalila (Barbara Chichiarelli). Os dois irmãos são criados por um pai emocionalmente desequilibrado ressentido por estar desempregado e ter se tornado um “dona de casa”. Acompanhamos também a difícil relação entre Viola (Giulia Melillo) e seu pai Pietro (Max Malatesta), um homem opressor com complexo de inferioridade e inveja dos vizinhos. Outro personagem da vizinhança é a jovem gestante Vilma (Ileana D’Ambra cativante) que planeja fugir com seu namorado. Geremia (Justin Korovkin) é adolescente problemático e tímido que vive na periferia da cidade em um trailer com seu amoroso e inconsequente pai Amelio (Gabriel Montesi fantástico), um garçom que se acha parecido com Antonio Banderas.
O importante no universo desses personagens é a interação entre pais e filhos, onde se impera uma incomunicabilidade, onde apesar de ocuparem os mesmos espaços, de estarem de corpos presentes, eles são incapazes de enxergar e entender os próprios filhos. Não que não exista amor nessa relação, o amor está lá, mas parece haver algum problema de comunicação, onde quem sente não consegue expressar a ponto do outro se sensibilizar.
Podemos tirar várias conclusões dessa falta de contato, onde um é incapaz de enxergar as necessidades do outro. A primeira a velocidade dos acontecimentos e da informação se dá de forma tão rápido atualmente, que o abismo de uma geração para outra gera essa incomunicabilidade. Ou que o egoísmo e a individualidade de nossa sociedade impede que enxerguemos o outro como ser independente, onde só conseguimos vislumbrar e identificar o que se refere a nós mesmo refletido no outro. Como se o outro fosse um apêndice nosso e que só existisse na nossa presença e vivesse em nossa função, sem vontade ou vida própria.
Sendo assim, essas crianças que tem acesso a uma infinidade de informações através da internet e uma demanda emocional enorme que necessita ser saciada através uma tela, seja do celular, computador ou TV. Essa tela que tudo expressa sem filtros como um espelho. Qual a imagem que a juventude tem de si ao se espelhar nessas telas? A quem elas recorrem quando se tem dúvidas? Quais as consequências de saber sobre tudo e menos sobre si mesmas?
Um filme inquietante sobre a incomunicabilidade, o egoísmo e a falta de identidade gerando indivíduos inseguros, insensíveis e inconsequentes. As crianças de Hamelin transformadas em ratos cegos, surdos e mudos.
Crítica por: Fabio Yamada.
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