Crítica: Precisamos Falar Sobre o Kevin

 "PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN” - 2011

Um filme perturbador, confuso e angustiante. 

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Não existem respostas fáceis no filme de Lynne Ramsay. O que leva um psicopata a fazer o que faz? Um psicopata é capaz de amar sua mãe? O que uma mãe faz com o amor por um filho psicopata? Existe limite para o amor de mãe?

Esse filme sobre o ponto de vista de uma mulher destruída após o filho ser preso por realizar uma massacre em sua escola e em sua casa. O filme possui várias linha temporais, uma que trata dos eventos pós-massacre com Eva (Tilda Swinton magistral) sobrevivendo as inúmeras humilhações e punições da população da cidade em que vive e visitando seu filho Kevin (Ezra Miller estupendo) na prisão. A outra linha temporal acompanha Eva e Kevin, desde a gravidez, infância e idade adulta. Na verdade trata-se das memórias de Eva tentando entender o que poderia ter sido diferente em seu relacionamento complicado com filho durante sua criação. O que ela poderia ter feito de diferente para evitar esse desfecho. A última linha temporal é a do dia do massacre, através de imagens da violência sendo retardadas até o último momento, não para criar um mistério ou suspense, mas sim para simbolizar a incapacidade de uma mãe conceber tais atos.

Nós sabemos desde a cena inicial de que algo de muito errado está para acontecer, a cena de Eva na Tomatina, festa italiana onde as pessoas fazem uma guerra com tomates, tingindo de vermelho seus corpos lambuzados com o sugo dos tomates. O vermelho é uma cor constante em cada plano, seja na tinta que picham a casa de Eva, na parede de molhos vermelho do supermercado, nos cartazes da agência de viagens na qual Eva trabalha.

O peso da culpa que Eva sente chega a ser palpável nesse filme extremamente sensorial. Na minha opinião, na verdade, não existem três linha temporais de narrativa. Tudo está conectado, presente, passado e futuro. Nós somos seres racionais e emocionais. Muitas dessas emoções decorrem da nossa capacidade racional de estabelecer conexões entre lembranças e estímulos externos que recebemos dos nossos sentidos, sejam visuais, auditivos, táteis, olfativos ou gustativo. Estamos recebendo estímulos a todo momento e eles não ocorrem de forma linear; o passado, presente e futuro se embaralham para construir uma sensação do presente. Por isso, as vezes não faz sentido tentarmos contar uma história de forma linear se utilizando apenas do artifício visual, fica muito pobre. A nossa consciência é constituída de várias lembranças, emoções e sensações, tudo misturado e ao mesmo tempo. Tentar simplificar e transformar isso numa linha reta seria um grande equívoco.

Lynne Ramsay faz exatamente o contrário, inunda a tela com cenas que evocam a memória da personagem, alternadas com cenas de grande poder emotivo e outras puramente sensoriais. Deixando que o espectador cria a sua própria narrativa sensorial. Um filme essencial e sensacional.


Crítica por: Fabio Yamada

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