Crítica: A Maldição da Mansão BLY

 "A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY” - 2020

A obra seriada de Mike Flanagan surpreende novamente nessa segunda temporada (a primeira temporada - A Maldição da Residência Hill) com uma elegante e inteligente adaptação do livro A volta do parafuso de Henry James.

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Existem várias formas de se adaptar a obra de um autor, você pode se limitar ao que está escrito nas páginas do livro, ou pode como no caso se desprender e abranger outros livros do mesmo autor ou quem sabe a própria história de vida do autor, criando assim um novo produto, muito mais rico e potente, com uma capacidade de ressonância com a realidade muito maior.

Na história original temos dois irmãos, Miles e Flora, que perderam os pais e moram em uma mansão no campo. Seu tio contrata uma governanta para que ele possa se manter distante das crianças. A governanta começa a ver visitantes na mansão que se assemelham a ex-funcionários mortos e as crianças começam a apresentar estranhos comportamentos.


Mike Flanagan utiliza essa história aparentemente simples, cuja essência está na dúvida sobre a sanidade da governanta, e transforma em uma epopéia que mescla outras obra do autor (The Romance of Certain Old Clothes - The Jolly Corner - The Two Faces - The Beast in the Jungle) que serve como referência para introdução de novos personagens na trama ou simplesmente para enriquecer um personagem já existente na história original. 

Na segunda temporada da série antológica, clima de terror da primeira temporada se dissolve dando lugar a uma história sobre o luto e como cada um lida com suas perdas, como uma personagem fala em algumas das cenas, toda história de fantasmas também é uma história de amor. Como que se os sentimentos por quem tínhamos enquanto estavam vivos transformassem-se nos fantasmas nos acompanham em vida. Afinal o que fica depois de tanto amor? Um cheiro? Uma presença? Um toque? Uma dor? Um arrependimento? Uma memória? São esses os tipos de fantasmas que permeiam a história de Mike Flanagan. 

A história se inicia com uma mulher intrigante (Carla Gugino) contando uma história de fantasmas em uma festa de casamento. Ela inicia-se contando sobre Dani (Victoria Pedretti linda), uma americana viajando pela Inglaterra que consegue o emprego de cuidadora de duas crianças órfãs, Miles e Flora, que moram numa mansão distante em Bly. O tio Henry (Henry Thomas) a contrata justamente para ter o mínimo contato com as crianças. 

Dani fugindo de seus próprios fantasmas vai para Bly, onde conhece a governanta Hanna (T’Nia Miller fantástica), a jardineira Jamie (Amelia Eve) e o cozinheiro Owen (Rahul Kohli), além lógico das crianças Miles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith) que dão um show a parte.

Aos poucos vamos percebendo estranhas presenças que rondam os corredores e jardins da mansão. Através da narração em off e dos relatos dos personagens, vamos descobrindo sobre as mortes de um casal de funcionários, Peter (Oliver Jackson-Cohen lindo) e Jessel (Tahirah Sharif). O comportamento das crianças oscilam como se elas trocassem de personalidade e a governanta Hanna apresenta crises de ausência, como se ela vagasse por suas memórias. Seriam fantasmas possuindo seus corpos ou cômodos com chaves que possibilitam viajar no tempo? Ou os personagens estão enlouquecendo influenciados por seus sentimentos e memórias em relação aos que já partiram? 

Os fantasmas aqui não são monstros que dão sustos, mas sim resquícios reais de um luto que não desaparece, que permanece e insiste em machucar. O medo do sentimento da perda é uma dor real e poderosa que assusta muito mais do que qualquer entidade monstruosa.~


Crítica por: Fabio Yamada.

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