“DUNA" 1984
Precisamos urgentemente falar sobre Duna.
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Um clássico livro que deu origem a saga de ficção-científica mais famosa da história da literatura. O mais famoso filme jamais realizado, que na época prometia ser uma obra surpreendente nas mãos de Alejandro Jodorowski. O filme bomba de David Lynch, picotado pelos produtores da Universal que almejavam um novo Star Wars. O mais aguardado filme do ano, que nas mãos do fantástico Denis Villeneuve e dividido em duas partes promete finalmente fazer jus ao universo criado por Frank Herbert.
O mal fadado projeto do chileno Alejandro Jodorowski no ano de 1974, que tinha na equipe nomes com Moebius, H.R. Giger, Dan O’Bannon, Chris Foss, Salvador Dalí, Glória Swanson, Orson Welles, Mick Jagger, David Carradine, Udo Kier, Magma e Pink Floyd, deixou como herança e esperança um novo projeto nas mãos de ninguém menos que Ridley Scott. No entanto, devido a incidente com seu irmão foi forçado a abandonar o projeto, que caiu de bandeja no colo de outro proeminente cineasta, David Lynch que recém tinha realizado O Homem Elefante e Eraserhead, mais cujas vertentes criativas permaneciam desconhecidas do grande público e dos produtores da Universal.
O filme foi um estrondoso fracasso de crítica e público, o corte do diretor que inicialmente tinha quatro horas de duração foi picotado pelos produtores, reduzido para pouco mais de duas horas. David Lynch renega o filme, evitando tecer comentários até hoje sobre o assunto, que depois do qual criou uma diretriz para si mesmo: Não faça um filme se não for o filme que você quer fazer.
No enredo do filme, recheado de narrativas explicativas sobrepondo diversas vezes sobrepõe o conteúdo épico sobre o drama, retirando todo o poder das imagens cinematográficas (recurso utilizado para encurtar o tempo do filme - mal sabiam os produtores que Lynch se tornaria um expoente do cinema surrealista no qual impera a narrativa lírica e poética).
Na história do filme, temos um planeta desértico chamado de Arrakis, único local do universo onde é encontrado um tempero ou especiaria chamada de Melange, que permite a expansão da consciência e ao mesmo tempo proporciona o deslocamento de viagens espaciais através da dobra do espaço-tempo. Quem controla a produção do tempero, controla o universo. Produção está que é disputada por três dinastias, a Casa Corrino do Imperador Shaddam IV (José Ferrer), a Casa Harkonnen do Barão Vladimir (Kenneth McMillan) e Feyd Rautha (Sting) e a Casa Astreides da família do protagonista do filme, cada uma delas em seu planeta próprio.
Numa trama de intrigas políticas digna de Game of Thrones, o Imperador afim de impedir um golpe de estado, oferece ao Duque Leto Astreides (Jürgen Prochnow), o controle de Arrakis, mas com a intenção de que sua família e tropas sejam destruídos pelos Harkonens, que possuem um traidor infiltrado dentro da corte dos Astreides.
Leto tem como companheira um concubina, Lady Jéssica (Francesca Annis lindíssima), que é membro da seita Bene Gesserit, que possui dons ler os pensamentos e controle dos humanos através da impostação de sua voz, quase que uma lady Jedi. O casal tem como herdeiro Paul Astreides (Kyle MacLachlan), cujo a força mental e o poder de suplantar o medo, o elevam a candidato a ser um aguardado ser supremo de uma antiga profecia, Kwisatz Haderach, um macho Bene Gesserit que seria capaz de encurtar o caminho e estar em dois lugares ao mesmo tempo. A reverenda realiza um teste com Paul através de uma caixa que induz a dor através da mente, cena na qual é citada a litania do medo, um verdadeiro libelo anarquista sobre a libertação do medo, muito mais poderoso do que: Que a Força esteja com você.
A dinastia Astreides vija para Arrakis rumo a uma armadilha, os Harkonnen atacam o palácio com a ajuda do Dr. Yueh (Dean Stockwell), assassinando o duque Leto e enviando Lady Jessica e Paul para morrerem no deserto. Mãe e filho conseguem escapar e encontram no meio das Dunas o povo Fremen, um povo nômade do deserto subjugados pelos Harkonnen.
Paul ascende entre o povo Fremen, assumindo o nome de Muad’Dib, conhece sua amada Chani (Sean Young) e ensina seu povo a lutar. Ao dominar os vermes gigantes do deserto, após beber a Água da Vida e finalmente confirmar a profecia Kwisatz Haderach, Paul transforma-se no messias que libertará o povo Fremen. Ele destrói a produção de Melange, assumindo o controle do planeta, expulsando a dinastia Harkonnen e subjugando o Imperador.
Agora, imaginem tudo isso, o enorme arco desse personagem e todas as casas com seus inúmeros personagens, um universo singular com uma linguagem e mitologia própria, tudo comprimido em duas horas de filme. Impossível! Game of Thrones teve várias temporadas e foi insuficiente. O Senhor dos Anéis, três filmes de mais de três horas cada. Harry Potter, um total de oito filmes.
O grande legado do filme de David Lynch é a estética retrô-futurista criada por ele, com cada casa fazendo alusão a um grande império do passado da nossa sociedade. Os cenários e figurinos brincam com o Chiaroscuro renascentista, onde o suposto mal reluz através de um falso dourado e é iluminado por luzes fluorescente, onde o sangue derramado se destaca e o suposto bem permanece obliterado pela escuridão da noite, submerso sobre águas escuras que representam a origem da vida.
A grande epopéia de Frank Herbert que expressa conceito intrínsecos desta sociedade, que muito se espelha na nossa, já naquela época dos anos sessenta explorava conceitos sobre política, economia, religião, ecologia e tecnologia, sabendo que estes temas não podem ser tratados em separado, que eles influenciam um ao outro, que a estabilidade de um depende dos outros. Esses são os pontos que devem ser abordados na nova incursão cinematográfica desse universo. Um tema tão atual, como sempre foi na história de nossa humanidade, mas que muitos insistem em não enxergar.
Crítica por: Fabio Yamada
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