Crítica: "Raw"


“Raw" - 2016

Um filme belga surpreendente sobre o tema pesado do canibalismo e dirigido por uma mulher (estréia de Julia Ducournau). Durante suas exibições muitos espectadores passaram mal ou abandonaram a sala de exibição.

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O filme apresenta cenas grotescas, sim, mas não são somente as cenas que chocam, mas sim a construção dos personagens e o ritmo da história que nos levam a nos importar profundamente com que estamos vendo. Existem muitos filmes gore com cenas muito piores, mas simplesmente aquelas cenas não tem credibilidade. Neste filme embarcamos na tragédia da protagonista.

Na história temos Justine (Garance Marillier visceral), uma jovem vegetariana que acaba de ingressar na faculdade de veterinária. Durante o trote da faculdade, os veteranos a obrigam a comer um pedaço de carne, conseguimos sentir a aversão dela na cena. Isso desperta algo dentro de Justine, transformando seu organismo, ela fica viciada em carne crua ou não, ela tem verdadeiras crises de abstinência. Isso acaba fazendo com que ela chegue a carne humana, em uma cena inacreditável, você chega a rir de nervoso ou não consegue olhar para tela. A construção da protagonista como uma menina frágil, que tenta superar as adversidades, começando a fazer amizades nos lembra os filmes "coming of age" americanos para logo em seguida mergulhar em uma atmosfera de horror puro.

Os personagens secundários, desde a irmã veterana Alexia (Ella Rumpf), que estuda na mesma faculdade até o colega de quarto Adrien (Rabbah Nait Oufella), personagem homossexual que foge do estereótipo comum, eles são incríveis e vão crescendo na história assim como a protagonista. O canibalismo em si não é tratado como um ritual ou uma questão de preferência (degustação), mas sim como uma necessidade, um instinto despertado (poderíamos fazer uma analogia ao uso de drogas por um viciado). As reviravoltas do roteiro são impressionantes, não no sentido dela ser descoberta ou perseguida (o conflito na maior parte das vezes é interno - a culpa).

Um filme de terror original, com cenas potentes e grotescas. A sensação de incômodo acompanha e perturba o espectador por muito tempo após o término do filme, pois nada daquilo foi gratuito. Um filme cru e intenso como um bom filme sobre canibalismo deveria ser.


Crítica por: Fabio Yamada

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