Crítica: "Os Cowboys"

"Os Cowboys” - 2015

Imagine uma comunidade na França que adora se vestir com caubóis do velho oeste e ouvir música country. Engraçado não? Agora imagine um diretor utilizar essa comunidade como artifício para falar sobre o preconceito e o racismo contra imigrantes árabes e muçulmanos na Europa.

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A conquista do oeste americano tão vangloriada no filmes de western pode ser comparada com as ondas de migração do Oriente Médio e África para o ocidente?

Na história temos um drama familiar na tal comunidade fã de western, a adolescente Kelly (Iliana Zabeth) desaparece e seu pai, Alain (François Damiens) parte em sua busca junto com o filho, Kid (Maxim Driesen/ Finnegan Oldfield). Essa busca interminável, separada em blocos com grandes elipses, os leva de encontro com o submundo de cooptação de jovens europeus por extremistas islâmicos. O filme pode ser visto como uma homenagem ao filme "Rastros de Ódio" de John Ford, no qual a sobrinha de John Wayne é raptada por uma tribo indígena. No entanto, aqui não existem mocinhos e nem bandidos (Será que algum dia existiu? Ou só na cabeça desses americanos chucros?). O que existe é uma sociedade extremamente complexa montada sobre um estrutura baseada no colonialismo que continua massacrando uma população dita não branca. Uma sociedade que tenta a todo custo criar muros visíveis ou invisíveis para barrar essa suposta invasão. A jornada dos personagens é tão longa que ao final do filme, as questões e os valores destes já sofreram tantas transformações. Aquela linha de separação, tão clara no início está borrada, os ímpetos arrefeceram e os objetivos se perderam.

O primeiro filme do diretor Thomas Bidegain que já foi responsável por roteiros de filmes incríveis, como "O Profeta" e "Ferrugem e Osso" ambos dirigidos por Jacques Audiard.

Um filme triste mas muito inteligente que utiliza essas metáforas para desconstruir essa visão maniqueísta do mundo. Não adiante querer ou tentar barra-los, eles já estão aqui, sempre estiveram. Eles não são os outros, eles somos nós. O mundo e as pessoas vivem em constante ondas de migração. Não encare como uma invasão mas apenas um reencontro de velhos amigos.


Crítica por: Fabio Yamada

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