Crítica: "Dark"

“Dark"  2017-2020

Uma série alemã complexa e misteriosa que se inicia com o desaparecimento de habitantes da cidade de Winden, mas revela-se como uma ousada ficção-científica sobre viagens no tempo.

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Uma história com vários personagens cujas histórias se intercalam em várias épocas diferentes, sendo que cada personagem é representado com pelo menos três idade diferentes (três atores diferentes), se você não guardar o nome do personagem e o arco de cada um deles na história acaba se perdendo.
As viagens no tempo que inicialmente seriam a partir de uma caverna e relacionada a resíduos de uma usina nuclear, evoluem para equipamentos extremamente complexos relacionados à matéria escura ou partícula de Deus. O vai e vem cronológicos associados a diferença no desenvolvimentos dos atores mirins também pode se revelar um problema entre as três temporadas, filmadas em diferentes épocas, podendo te confundir.

Tudo o que escrevi até agora serve para previnir o espectador de que trata-se de uma obra complexa que necessita de atenção para ser compreendida, mas que em nenhum momento deixa de ser deliciosa de assistir. As reviravoltas e surpresas que o roteiro revela aos poucos são fantásticas (ousadias que somente o cinema europeu se permitiria), que passam longe de filme como De volta para o futuro.
O seriado nos apresenta uma série de teorias filosóficas e paradoxos científicos, discutindo temas como “O labirinto do Minotauro”, “Determinismo x Livre-arbítrio”, “Mitos sobre Adão e Eva”, “Triqueta: representação pagã e religiosa”, “Ouroboros: Eterno Retorno”, “Mito da Caverna de Platão: percepção do mundo”.

Os mistérios centrais são revelados aos poucos, criando falsas indicações religiosas e místicas (na verdade tudo que hoje pode ser considerado ciência um dia pode ter tido uma conotação mística ou religiosa no passado).
 
Não vale a pena, ficar discutindo a história de cada personagem aqui. O interessante a ser discutido é que na primeira temporada somos apresentados as viagens no tempo com consequências incríveis, como descobrir a paternidade do protagonista Jonas e o problema insolúvel em resgatar Mikel do passado, não existe aqui espaço para concessões com finais felizes.

Na segunda temporada descobrimos que além de viagens no tempos existem universos paralelos. A presença maligna do principal vilão Adam e a revelação de sua  verdadeira identidade, mostrando a irrefreável influência do tempo em nosso corpo e em nossos pensamentos. O que parece tão certo e definitivo hoje, pode se tornar volátil e incerto no futuro.

Na terceira temporada somos apresentados a Adam e Eva, nossos queridos protagonistas são surpreendidos. Nenhum personagem está seguro e o nó que interliga os dois universo paralelos levará a destruição de ambos os mundos. Entendemos o verdadeiro significado da frase que é repetida desde o primeiro capítulo de que o começo é o fim e o fim é o começo, com mais revelações ousadas e surpreendentes, mas de uma simplicidade arrebatadora.
 
Existem discussões filosóficas sobre o que é o paraíso, um local onde não existe mais dor, e sobre o inferno, um local onde tudo sempre acontece da mesma forma, num looping que se repete independente do que você faça.
 
Na minha opinião toda a temática sobre viagens no tempo, universos paralelos ou fissuras na realidade representam metáforas para nossos sentimentos de culpa, ressentimentos e arrependimentos que temos na vida. É a nossa consciência fazendo e refazendo continuamente aquela mesma pergunta: "E se?" Como Einstein disse: "A diferença entre passado, presente e futuro é somente uma persistente ilusão".
A brincadeira sobre que o livre arbítrio representa a nossa capacidade de controlar nossas ações para conseguir o que queremos, mas que na verdade não temos o controle sobre o que desejamos, é fantástica. Estamos presos em um looping perpétuo onde tudo se repete, a teoria sobre o determinismo, onde os acontecimentos do passado estão interligados com os do futuro e vice-e-versa. Como na música “Pais e filhos” do Legião Urbana: “São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer”.

Crítica por: Fabio Yamada

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