Crítica: "Corra Lola, Corra"

"Corra Lola, Corra" - 1988

Um dos filmes mais cultuados dos anos 80/90 e um dos primeiros trabalhos de Tom Tywker. Ele representa a sua época numa Berlim pré-Queda do Muro.

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Um filme que mistura o popular e o erudito, com várias camadas de interpretação em ritmo de videoclipe. Simplesmente fantástico.

O filme já se inicia com uma simulação de um campo de futebol convidando o espectador a participar de um jogo após o som de um apito. Na história temos Lola (Franka Potente com seus cabelos vermelhos) recebendo a notícia que precisa conseguir 100 mil marcos para seu namorado Manni (Moritz Bleibtreu) em vinte minutos. Lola pensa em todas as sua possibilidades. A primeira pessoa a qual ela pensa em pedir ajuda é o pai Vater (Herbert Knaup), que trabalha em um banco. Na primeira escolha de Lola, temos uma breve cena de animação na qual ela ignora o cachorro raivoso ao sair de casa, cruza alguns transeuntes em um criativo flashforward de cada personagem através de fotos. O pai nega ajuda a Lola. Ela encontra Manny e eles decidem assaltar um supermercado. Tudo termina em tragédia.

O filme retorna ao início, na segunda escolha de Lola, ao sair de casa, na animação Lola atropela o cão raivoso e acaba caindo pela escada. Ela vai pedir ajuda para o pai, mas sabendo que ele vai negar, decide por assaltar o banco para conseguir o dinheiro. O flashforward dos personagens que cruzam por ela se modificam. Ela encontra-se com Manni, mas tudo termina em tragédia novamente.

O filme retorna ao início, na terceira escolha de Lola, ela pula sobre o cão raivoso, saindo ilesa do prédio. Ela decide por ignorar a possibilidade de ajuda do pai e escolhe o acaso. Ela entra em um cassino, aceita participar de um jogo de roleta e após a cena memorável do grito consegue o dinheiro que precisa. Finalmente, Lola alcança o final feliz com seu amado Manni.

Podemos encarar o filme de Lola contra o mundo correndo pelas ruas de Berlim como um jogo com três resultados possíveis e a cena de animação (em outro plano) como a consciência de Lola. Na primeira as forças do mundo se sobrepõe sobre Lola, ela ignora sua consciência (cachorro), acatando as vontades do pai e aceitando o participar do plano de Manni.  Na segunda Lola se sobrepõe sobre o mundo, ele escuta sua consciência (reconhece mas atropela o cachorro e cai), rebela-se contra o pai e assaltando o banco. Mas em ambas as vezes Lola falha ao encarar o mundo, na primeira por não se impor e na segunda por adotar uma overreaction. Somente, na terceira chance ao escapar das possibilidades lógicas que o mundo lhe apresenta e aceitar o acaso representado pela roleta, que Lola consegue atingir um equilíbrio de forças, tomando as rédeas de seu destino e restabelecendo a ordem de sua vida.

Crítica por: Fabio Yamada

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