Crítica: Filhos da Esperança

"Filhos da Esperança” - 2006

Uma verdadeira obra-prima do cinema moderno. Este filme de Alfonso Cuarón consegue unir a forma com o discurso de maneira esplêndida. Ele cria um filme de ação complexo e com várias camadas de leitura e ainda realiza várias críticas sociais.


🔑🔑🔑🔑🔑 



Estamos em uma Londres de 2027 (nem tão longe em anos e nem em realidade), um governo autoritário tenta restringir cada vez mais os direitos dos cidadãos ou cidadãos que tem direitos (prendendo os imigrantes). Várias doenças afligem a população, mas a pior é a infertilidade, a pessoa mais jovem viva tem 18 anos. O desgaste e a sujeira da cidade refletem essa não renovação das coisas e dos ambientes. Se não nascem crianças, para que cuidar das coisas, para quem vamos deixar o mundo. Isso está expresso no magnífico trabalho de cenografia e direção de arte.
O filme acompanha a trajetória de Theo (Clive Owen em seu melhor) que vive desiludido como a maior parte das pessoas, sua rotina é quebrada quando visita o alegre e alheio a situação Jasper (Michael Caine). A morte do até então cidadão mais novo do mundo com 18 anos desencadeia uma onde de protesto e revolta na cidade. A personagem Julian (Julianne Moore sempre maravilhosa) ex-mulher de Theo se encarrega de tira-lo dessa inércia, convocando nosso herói para a missão de transportar a primeira gestante em duas décadas do planeta. Kee (Clare-Hope Ashley), uma mulher negra e imigrante que simboliza a esperança do filme.

Em um plano-sequência ação icônico filmado dentro de um carro em movimento que sela o destino da nossa heroína Julian, jogando de vez Theo no meio do turbilhão. Em meio a uma guerra de narrativas entre governo e rebeldes, Theo (e nós espectadores) se convence de que somente ele será capaz de manter a segurança de Kee e transporta-la até o navio com os cientistas (destino seguro). Antes de chegarem ao porto, os dois caem em um edifício que está sendo invadido por tropas do governo. Outro plano-sequência fantástico em meio a tiroteios, bombardeios e lutas de ação, mas acima do apuro técnico da cena com câmera na mão, sangue e poeira na lenta que aumenta a realidade da cena, temos a mensagem principal do filme. O choro de um recém nascido consegue ser ouvido em meio a guerra. Todos param para observa-lo, militares, rebeldes e civis. Aquela criança evoca a humanidade dentro de cada um no meio daquela loucura toda. O valor de uma vida no meio de uma guerra, simbolizando a esperança, renovação e continuidade.
 
Um filme imperdível de ação e guerra que mistura ficção científica e drama, tecnicamente excepcional e dramaticamente soberbo. Uma ficção distópica que se aproxima cada vez mais da nossa realidade.

Crítica por: Fabio Yamada

Comentários