Crítica: Underground

“Underground” - 1995

Um dos melhores filmes de todos os tempos, vencedor da Palma de Ouro em Cannes de 1995. 

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O filme dirigido por Emir Kusturica (Quando papai saiu em viagem de negócios e Vida Cigana) é uma alegoria fantástica sobre como e porque a Iugoslávia foi despedaçada durante a Guerra dos Balcãs.

A história começa com a amizade entre Marko e Crni, que inicialmente fazem parte da resistência contra os nazista para depois se transformarem em gangsters traficantes de armas. O bombardeio de Belgrado pelas tropas alemãs focalizado na destruição de um zoológico, apresentando o sofrimento dos animais é brilhante (já estamos anestesiados para cenas do sofrimento humano). O enredo mergulha em um universo surrealista (uma homenagem a Fellini) onde uma parte da população fica enclausurada em um porão durante 20 anos, acreditando que a Segunda Guerra ainda não acabou (período no qual Tito governou uma Iugoslávia socialista). A fuga do porão utilizando-se da metalinguagem através de uma filmagem de eventos pregresso é recheada de tiradas deliciosas. A cenografia exuberante associada a trilha sonora de Goran Bregovic criam um mundo fantástico que em nenhum momento busca a verossimilhança, mas mesmo assim consegue expressar o sofrimento estarrecedor de uma guerra.

A metáfora criada através do porão e os túneis subterrâneos que cruzam a Europa remetem as rivalidades e resquícios de ódio dos povos dos Balcãs que foram obrigados a viverem juntos sob uma mesma bandeira. No entanto, na minha visão, essas justificativas de diferenças étnicas e religiosas são uma neblina para maquiar outros interesses.

"Uma guerra não é uma guerra de verdade, até um irmão matar o outro” - Essa frase proferida por um personagem representa esse momento sombrio. Detalhe: o filme foi filmado antes do final da guerra.

Fabio Yamada

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