"A NUVEM" - 2020
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Um filme nada tradicional sobre ataques de animais ou insetos que matam e devoram seres humanos. No esteio desse gênero cinematográfico, já tivemos os tradicionais tubarões, piranhas, baleias, vermes gigantes, aranhas, formigas, besouros, abelhas, moscas, vespas, gorilas, pássaros, cães, gatos e ratos, além de dinossauros e dragões e ainda os mais inusitados e criativos tomates, árvores e até camisinhas assassinas, sem nunca esquecer aqueles que realmente devoram as pessoas, ursos, leões e crocodilos. Já ia esquecendo, outros seres humanos também, os canibais e os zumbis.
Os gafanhotos são símbolos de pragas desde a escrita da bíblia e permeiam o nosso imaginário como responsáveis por grandes destruições de lavouras, não que isso não seja verdade. No entanto, em algumas culturas eles na verdade são alimentos humanos de grande teor proteico.
Na história, somos apresentados a família de Virginie (Suliane Brahim maravilhosa) que se vê obrigada a cuidar de uma fazenda e de seus dois filhos Gaston (Raphael Romand) e Laura (Marie Narbonne) após a morte de seu marido. A mãe solitária resolve abandonar o antigo negócio com cabras e investe na produção de gafanhotos, o que rende muita desconfiança dos vizinhos e brincadeiras nada agradáveis para seus filhos na escola local.
Apesar dos benefícios científicos de uma dieta rica em proteína a base de gafanhotos, o negócio de Virginie não engrena e ela acaba sendo obrigada a produzir farinha de seus bichinhos para servir de ração para patos. O retorno financeiro acaba não sendo exatamente o que ela planejara, principalmente a partir do momento que a reprodução dos insetos não acompanha o tamanho de suas dívidas.
Um acidente inusitado dentro da estufa revela para Virginie que os gafanhotos apresentam um apetite voraz por sangue humanos, além de servir como afrodisíaco para a reprodução destes. A fazendeira começa literalmente a oferecer o próprio sangue para aumentar a produção, No entanto, as suas doações contínuas de sangue não são capazes de acompanhar sua ambição crescente e Virginie começa a investir em outras fontes de sangue, que incluem o cão e a vaca de um vizinho, além da involuntária oferenda da cabra de estimação do filho.
O pesadelo da destruição causada pela praga bíblica é construído de forma lenta, investindo pesado na construção dos personagens da família, além da presença constante de Karim (Sofian Khammes), um imigrante que tenta se estabilizar no ramo da produção de vinhos que se torna o interesse amoroso de Virginie. No entanto, são os embates entre mãe e filha que rendem as melhores cenas e cujos conflitos crescentes atingem o clímax ao final do filme.
O mais interessante a observar no filme é o fato dele não se render aos clichês do gênero onde um acidente liberta os insetos assassinos que destroem a cidade. Os eventos são pontuais, onde o cerne da maldade não está exatamente no comportamento dos insetos, mas sim nas ações da protagonista. O horror surge da crueldade de Virginie em relação a todos que estão a sua volta, obcecada em alimentar e fomentar a reprodução de seus insetos, que não fazem nada além de do que zunir e se alimentar.
As cenas de terror não chegam a ser grotesca, poupando o espectador de uma violência mais gráfica. O zunido crescente dos insetos que aumentam exponencialmente em número, conseguem criar uma trilha-sonora arrepiante anunciando o perigo iminente. Um filme interessante justamente por não oferecer exatamente o que o público desse tipo de filme deseja, que são verdadeiros insetos assassinos. O grandes vilão consumidor e de ambição sem limites, como sempre, é o homem e seu comportamento destrutivo incapaz de preservar o futuro da própria prole.
Crítica por: Fabio Yamada.
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