Crítica: Além do Mal

"ALÉM DO MAL" - 2021

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A produção original do canal de TV coreano JTBC e que foi distribuída mundialmente pela Netflix pode ser considerada como membro da famigerado grupo de doramas, principalmente por causa dos seus 16 episódios com duração de mais de 70 minutos cada.

No entanto, seria um enorme desleixo misturar essa produção requintada e com excelente roteiro com as novelonas coreanas, não que essas não façam sucesso com o grande público e que tenham caído no gosto dos espectadores brasileiros familiarizados com esse tipo de produto. Como sempre digo, todo produto tem seu público e sua plataforma de exibição.

Nessa mistura de filme policial com pitadas de suspense e terror, iniciamos com um pequeno prólogo, onde somos brevemente apresentados a família de Dong Shik (Lee Do-Hyun) cuja irmã pianista talentosa, Lee Yu-jeon (Moon Joo-yeon), desapareceu deixando apenas seus dedos para trás. Dong Shik inicialmente foi acusado pelo assassinato da irmã e mais tarde absolvido.

Mais de vinte anos depois, Dong Shik se tornou um obcecado policial da cidade local de Gyeonggi que não se melindra em prender a esposa de um colega de trabalho devido a aposta ilegais de jogo que ela faz com suas cliente no salão de beleza. A delegacia local recebe o reforço de Han (Yeo Jin-gu) um investigador novato filho do sub-comandante de polícia do país.

A relação interpessoal entre esse dois policiais é explorada ao extremo, com cada um deles tendo sua visão própria de justiça. Eles acabam formando uma dupla improvável durante as investigações de novos assassinatos na cidade. Ambos acabam se envolvendo involuntariamente  em eventos que desencadearam a morte de um inocente nessas trajetórias pela justiça e carregam o preço da culpa a sua maneira.

As reviravoltas são constantes e revitalizam o desejo do espectador a cada episódio, nunca sabemos ao certo em quem confiar, assim como os personagens em cena. As informações são fornecidas a conta gotas para o espectador que acaba sendo enganado pelo roteiro inteligente. 

As atuações dos atores não deixam dever em nada as produções americanas e européias. A fotografia e direção de arte conseguem envolver o espectador na atmosfera de mistério, mas sempre deixando espaço para o alívio cômico de alguns personagens.

A violência nunca chega a ser exposta explicitamente, no entanto, a carga emocional que envolve as relações entre os personagens fazem com que o público se identifique com os personagens a ponto de se emocionar com suas dores e seu luto, sem a necessidade da violência gráfica.

Sim, existe pontos negativos na série, momentos melodramáticos com câmera lenta e trilha sonora lacrimejante que quase me fizeram abandonar a série. No entanto, a velocidade de reviravoltas por minuto manteve o meu interesse pela série, que tenta se valorizar com questões políticas e sociais. 

O grande barato da série realmente é a crueldade do ser humano, um prato cheio para os fãs dos também coreanos Kim-Ki-duk e Park Chan-Wook. Claro que não esperem um produto tão bem acabado como os filmes destes dois diretores, mesmo por que a série tenta atingir um grande público de TV, que não apreciaria obras como: “Pietá”, “Moebius”, “Oldboy" ou “Lady Vingança”.

O sucesso da série da Netflix é mais uma amostra do sucesso e qualidade das produções coreanas, um tipo de cinema que consegue conciliar questões existenciais e sociais típicas do cinema europeu com a violência e ação do cinema comercial americano, sem nunca esquecer do pequeno toque de crueldade e cinismo que só os diretores coreanos tem coragem de exibir.

Crítica por: Fabio Yamada.

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