"A ETERNIDADE E UM DIA” - 1998
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Um filme maravilhoso do falecido diretor grego Theo Angelopoulos. Podemos considerar em parte como um filme testamento (apesar de não ter sido seu último filme), assim como O Sacrifício de Tarkovsky ou Fanny e Alexander de Bergman.
Aqui Angelopoulos cria o personagem Alexander (Bruno Ganz, sempre magnífico), um escritor doente que planeja se internar no hospital no dia seguinte. Ele tem que abandonar sua casa e ao arrumar suas coisas encontra uma carta de sua falecida esposa, Anna (Isabelle Renauld) relembrando um dia de verão de trinta anos atrás.
Durante essa trajetória em seu último dia de liberdade a vida de Alexander se cruza com a de um garoto albanês (Ahilleas Skevis) que tenta cruzar a fronteira, que acaba nas mãos de traficantes de seres humanos que se beneficiam da crise migratória.
Esses dois encontros, um no campo real (garoto) e o outro no imaginário (esposa falecida) simbolizam uma viagem ao passado da vida do protagonista (infância e juventude).
A interação entre Alexander e o garoto, na ausência de palavras devido a dificuldade da língua, se dá através do gestual e da mímica. O reencontro com a esposa através das palavras da carta da esposa e da poesia de Dionysios Solomos (Fabrizio Bentivoglio), um poeta romântico grego.
Angelopoulos é conhecido por seus planos gerais longos e contemplativos onde cria um mise en scène meticulosa e cheias de referências. Em algumas sequências, ele mistura no mesmo plano elementos reais e imaginários, do passado e do presente.
Na minha opinião um dos cineastas que conseguiram criar os mais belos planos do cinema. Alguns os chamam de planos democráticos, outros dizem que ele tem a capacidade de dilatar suas narrativas através dos planos. Impossível não se comover com os corpos de imigrantes dependurados na cerca de arame ou se maravilhar com os planos abertos na praia. A beleza dos enquadramentos de cada plano que se encaixam poeticamente em silêncio, não sendo necessárias palavras para expressar o sentimento de cada cena.
Muitos não apreciam o estilo de cinema deste diretor grego, devido aos planos parados, as lacunas de ação e o excesso de imagens poéticas. No entanto, ele recebeu a Palma de Ouro em Cannes por esse filme extremamente lento, lindo e triste que versa sobre o tempo. O tempo de um plano, o tempo de um filme, o tempo de um dia e o tempo de uma vida inteira.
Crítica por: Fabio Yamada.
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