"GREAT FREEDOM" - 2021
🔑🔑🔑🔑
Um filme que percorre a tênue linha entre o desejo e o amor, utilizando como exemplo um homossexual encarcerado devido sua orientação sexual.
Muitos pessoas, incluindo eu, não tinha idéia de que a homossexualidade era considerada crime na Alemanha até o ano de 1994, através do infame parágrafo 175, que autorizou a perseguição legal aos homossexuais durante mais de um século no território alemão, inclusive durante o período do nazismo onde eles eram enclausurados em campos de concentração.
O protagonista do filme é um desses coitados, Hans (Franz Rogowski, fantástico) saiu de um campo de concentração direto para o presídio graças a lei 175 e durante os cinquenta anos seguintes permaneceu entrando e saindo da cadeia graças ao seu, aparentemente condenável comportamento de não resistir ao desejo de ficar com outro homens.
O filme se inicia com uma emboscada da polícia em um banheiro público masculino, onde uma câmera era colocada por trás de um espelho para filmar os incautos e desavisados que se atrevessem a expressar e consumar seus desejos sexuais naquele local. Nosso querido protagonista é um desses frequentadores mais exaltados.
Em uma dessas idas e vindas da prisão Hans conhece Viktor (Georg Friedrich), um ex-soldado heterossexual que cometeu um crime ao retornar para casa após a guerra. Nesses encontros e reencontros entre os dois personagens, Viktor testemunhou alguns casos amoroso enrustidos de Hans dentro da prisão, servindo de cupido para alguns deles. Logicamente, com algum tipo de pagamento em troca. Apesar da relação complexa entre os dois personagens que inicialmente se repeliam, podemos notar uma aproximação e afeto entre os dois, que apesar de se enxergarem em posições tão distintas, na realidade são muito parecidos.
Enquanto o medo de Viktor de sair da prisão e encarar a vida real o leva para o vício em drogas, o suposto vício em sexo e carência amorosa levam Hans sempre de volta a prisão. Lógico que de maneira alguma devemos comparar a homossexualidade de Hans, que nunca foi ou será uma patologia, ao vício em drogas de Viktor, mas as consequências de seus atos ou de suas covardias os levam a permanecerem enclausurados na prisão. Poderíamos encarar quase como um ponto de intersecção no qual os dois personagens se eclipsam, enquanto um sede aos seus desejos e o outro foge de seus sonhos, criando uma inusitada simbiose entre eles.
A atuação contida de Franz constrói cenas emocionantes na tela e o final quando ele consegue a dita grande liberdade, o público é desafiado a repensar as origens do desejo humano, será que sempre desejamos o que é proibido ou mais desafiador? Será que somos condicionados a sempre desejar a tal liberdade, mas quando a conseguimos não sabemos lidar com ela? Ou simplesmente será que sempre seremos livres a partir do momento no qual vivemos nossos sonhos, mesmo que enclausurados, aprendemos nos adaptar? Onde verdadeiramente reside o desejo humano?
Existem várias formas de se ler a proposta desse filme. Algumas nem tão lisonjeiras assim, afinal o expectador mais desavisado pode sair com a idéia de que de alguma forma a liberdade sexual dos homossexuais sempre acaba se tornando algum tipo de orgia, sendo que na verdade à única coisa que o personagem queria era o direito de poder expressar seu amor por outro homem sem ser criminalizado por isso. Outros ainda poderiam acreditar que o amor é sempre algum tipo de prisão e que não estamos preparados para viver um amor livre. No entanto, no fundo a história tenta revelar que mesmo presos e condenados conseguimos enxergar e expressar o nosso amor por outro ser humano seja ele do mesmo sexo ou não, seja ele gay ou não, afinal o amor é plural e fraternal, podendo ou não ter algum tipo de conotação sexual. A grande liberdade está dentro de cada um de nós, assim como podemos ser nossas próprias prisões, mas sempre lutaremos para poder escapar delas.
Crítica por: Fabio Yamada.
Comentários
Postar um comentário