Crítica: Zona de Separação

"ZONA DE SEPARAÇÃO" - 2020

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Uma série espanhola dos mesmo criadores de “Vis a Vis” e “Estoy Vivo” que não teve o sucesso das duas anteriores mas que tem uma proposta ousada de roteiro principalmente devido ao momento sócio-político no qual vivemos.

Através da história de uma sociedade espanhola distópica onde após uma pandemia viral mundial causada por uma tal de Noravírus e o esgotamento dos recursos naturais, um governo ditatorial assume o controle do país como desculpa de proteger a segurança da população.

Na história acompanhamos mais especificamente a família Mujica que no ano de 2020 na época do golpe de estado acabou tendo o pai preso pela polícia e Emília (Irene Arcos) teve que cuidar de suas duas filhas gêmeas Sara e Júlia. 

Vinte e cinco anos depois, descobrimos de Sara (Olivia Molina) faleceu acometida pelo famigerado vírus e seu marido Hugo (Unax Ugalde) e sua filha Marta (Laura Quirós) saíram de Asturias com destino a Madri acompanhados de Álex (Daniel Ibáñez), para morar com Emília. Ao chegarem a cidade são recebidos por Emília (Angela Molina, fantástica) que agora trabalha em um mercado de bairro.

Ela mora com sua filha Júlia em um apartamento pequeno e tem como vizinha a intrometida  e onipresente informante de estado Begônia (Ángela Vega, inesquecível). Em uma trama paralela, Júlia que namora Carlos (Juan Blanco), acaba se envolvendo no assassinato de um comandante da polícia e tem que fugir da cidade sitiada.

No entanto, logo na chegada de Hugo e sua família, Marta acaba sendo selecionada e separada de seu pai por não ter emprego fixo. Hugo que na verdade é engenheiro acaba aceitando um emprego de faz-tudo na casa do Ministro da Saúde, Luís (Abel Folk). Emprego esse conseguido após pedidos de Emília, que fora uma paixão do passado do ministro que agora é casado com Alma (Eleonora Wexler) e tem dois filhos Iván (Nicolás Illoro), um baladeiro inconsequente e Daniella (Belén Écija), uma advogada rebelde.

Para poder ingressar na casa do ministro, Hugo precisa levar sua esposa que alegara ainda estar viva para não desconfiarem de uma possível infecção viral ao adentrarem na cidade. Hugo então pede o pequeno favor para Júlia de fingir ser Sara durante alguns dias para ele poder recuperar  a guarda de Marta, justamente no dia no qual Carlos planejou sua fuga da cidade. Obviamente, Júlia desiste da fuga e assume a identidade da irmã morta, se não a série acabaria no segundo capítulo sem mais conflitos a serem desenvolvidos.

A produção, direção de arte, cenografia, figurino e fotografia são excelentes, praticamente iguais a de produções americanas do gênero. O elenco está afiado e com a presença ilustre de Angela Molina que apesar de não oferecer a beleza física de outrora consegue entregar uma personagem forte. Outro ponto interessante do elenco é a presença de sua filha Olivia fazendo os papéis duplos de filhas da personagem Emília, impossível não observar a semelhança dos olhos de Olivia com da mãe Angela.

No entanto, a proposta ousada de se discutir os desdobramentos de uma pandemia viral e suas repercussões políticas num cenário de ascensão da extrema direita no mundo se desmancha em um roteiro pobre e extremamente clichê, uma verdadeira colcha de retalhos de outras produções do gênero em ritmo novelesco. Uma produção que em momento algum chega a desafiar o espectador, dando todos os desfechos que o público espera, gerando a incomoda sensação de mais do mesmo.

Sinceramente, se era para arriscar e realizar uma obra sem o distanciamento histórico que o momento merece, que os realizadores fossem ao fundo do poço, que realmente apertassem os botões que realmente doem. Não tivessem escrúpulos de mostrarem os verdadeiros efeitos e desfechos de uma pandemia mortal. 

Ao final da série temos a sensação de que o elemento desencadeador de todas as tramas que foi a disseminação do vírus não afetou verdadeiramente a população, passando a idéia de que o vírus não seja o maior perigo e sim o governo que se apropriou e utilizou-se do medo para criar um inimigo muito maior, o regime ditatorial. Diante do que estamos vivendo atualmente, tenho muito medo de que a vida copie a arte. Não que o vírus não seja letal ou não tenha um poder destruidor de massa, mas sim de que o pior ainda está por vir.


Crítica por: Fabio Yamada.


Ouça nosso episódio sobre essa série aqui.

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