Crítica: Cidade Invisível

"CIDADE INVISÍVEL" - 2021

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Contém Spoiler


Uma série brasileira produzida pela Netflix e com a direção de Carlos Saldanha com a premissa de colocar personagens do folclore nacional em um cenário urbano e atual. Um projeto ambicioso e importante, com uma concepção interessante mas cujo produto final acaba por ser apenas um recorte mal-ajambrado que se utiliza dos elementos da cultura nacional para criar uma série de suspense policial mediana.

Na história em si temos o policial Eric (Marco Pigossi lindo e só) cuja esposa morre durante um incêndio florestal de forma suspeita. Gabriela (Julia Konrad) era uma ativista ambiental que trabalhava na comunidade da Vila Toré, cuja a população está sendo pressionada a abandonar suas casas, afim de uma empreiteira construiu um resort turístico no local.

Eric fica responsável por criar de sua filha Luna (Manuela Dieguez), mas devido a sua instabilidade emocional e a sua investigação paralela da morte da esposa acaba por pedir ajuda a sua mãe Januária (Thaia Perez) para cuidar da neta. Durante a investigação Eric recebe a ajuda de sua parceira Marcia (Áurea Maranhão), que o acompanha em suas incursões na Vila Toré. Eles se deparam com um boto cor-de-rosa morto numa das praias cariocas da capital carioca. 

Enquanto Eric investiga as ações de João (Samuel de Assis) dentro da comunidade à mando de Afonso (Rubens Caribé) dono da empreiteira, ele se depara com estranhos acontecimentos como a transformação do boto no corpo morto de Manaus (Victor Sparapane). Camilla (Jéssica Córes) e Isac (Wesley Guimarães) são incumbidos de recuperar o corpo de Manaus à mando de Inês (Alessandra Negrini). No entanto, tudo dá errado e Eric acaba por desovar o corpo de Manaus na floresta próxima a Vila Toré para forçar uma investigação por sua divisão de crimes ambientais.

Tudo isso funciona como força motor para uma trama com premissa de defesa do meio ambiente recheada de seres paranormais folclóricos como Saci, Iara, Caipora, Boitatá e Cuca, que vivem no cenário da capital carioca camuflados entre os seres humanos normais.

Uma das grandes críticas a produção da série foi a da insistência de colocar o cenário da cidade carioca, ao invés de uma cidade do norte ou nordeste do país, que seria muito mais condizente com a trama, vide a Iara mergulhando no mar ou o boto aparecer numa praia. 

Existem belos momentos e efeitos especiais surpreendentes, as cenas do caipora com a cabeça flamejante, da Camilla cantando no bar da Inês ou a própria Inês cantando “A Cuca vem pegar” são memoráveis e impagáveis. 

A trama é simplificada, mas mesmo assim cheia de furos. O antagonista principal que trata-se do Homem-Seco, que apesar de poderoso nunca sabemos exatamente suas motivações. Se fosse o caso de um mistério a ser esclarecido durante a temporada, isso seria um bônus. No entanto, ele aparece e morre causando a destruição de várias entidades sem nenhuma motivação relevante ou convincente.

No entanto, tudo soa muito superficial e simplificado para consumo rápido e fácil assimilação (para o mercado internacional?), mas isso pode funcionar como uma faca de dois gumes, transformando a cultura nacional num produto engarrafado para exportação. O que pode soar contraditório se o objetivo é justamente defender a preservação do meio ambiente. Semelhante a aquele que não se pronuncia o nome que deseja transformar Angra dos Reis em Cancún.

Podemos dizer que o saldo da balança é positivo, nem que seja por que é o único produto de streaming nacional que realmente valoriza a cultura nacional. Pelo sucesso que atingiu de publico deve dar origem a outras temporadas, torcemos para que o criador se aprofunde tanto nas tramas quanto nas lendas folclóricas. Afinal sempre podemos nos confundir com aquilo que fica na superfície, boiando nos rios, nos lagos ou nos mares.


Crítica por:  Fabio Yamada

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