“SOLARIS"- 1972
Um filme lento, longo e profundamente perturbador para quem consegue assistir até o fim.
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Tarkovsky é conhecido por dilatar o tempo em seus filmes, com longos planos contemplativos que servem para o espectador ter tempo para refletir. Na maior parte dos filmes em geral o espectador buscar se identificar com o que está vendo na tela. No fundo, ao assistirmos um filme estamos procurando o nosso reflexo nesse grande espelho, que é a tela de cinema. E nada melhor do que nos darmos tempo para conseguirmos nos reconhecer.
Na época do lançamento do filme, muita gente achou que Solaris fosse a resposta soviética para o filme 2001 de Kubrick. No entanto, Tarkovsky revelou que só assistiu ao filme do americano anos depois e que achou o filme americano “estéril”. Não vou entrar nessa questão. No entanto, acho extremamente inteligente que Tarkovsky tenha optado por figurinos sóbrios e comuns, sem utilizar trajes espaciais, afirmando que qualquer coisa que fizesse nessa área causaria risos em quem assistisse seu filme 30 anos depois.
No filme, temos Kris (Donatas Banionis), um psicólogo astronauta que viajará para a Base Solaris que orbita o planeta afim de salvar o programa espacial em que se baseia a ciência, então chamada de Solarística. Na Base, um tripulante se suicidou deixando uma video-mensagem perturbadora. Os outros tripulantes, estão a beira da loucura. Kris acaba descobrindo que todos que sobrevoam ou se aproximam do oceano misterioso de Solaris acabam materializando entes vivos ou mortos, queridos ou odiados de seu passado. Kris se depara com sua esposa Khari (Natalya Bondarchuk) que se suicidou também. A teoria é que a inteligência alienígena busca se comunicar com os humanos através destas materializações. Não adianta matar essas materializações pois elas retornam em versões diferentes. Esses visitantes são baseados na memória do tripulante, apresentando lapsos de memória e questões que não podem ser respondidas.
Tarkovsky baseou o filme no livro de Stanislaw Lem e tenta questionar a corrida espacial. O que o homem realmente procura no espaço? O que encontramos quando estamos sozinhos no espaço sideral? Quais são os nossos questionamentos quando estamos sozinhos com nós mesmos? (Um ótimo filme para tempos de quarentena - ou perigoso?).
No final ambíguo e aberto, ilhas começam a emergir do oceano de Solaris (ilhas de memória?). Kris encontra-se em uma dessas ilhas e retorna para casa e para seu pai (Kris se reconcilia com seu passado?). O astronauta encontra seu espelho no oceano de Solaris? Kris nunca saiu da Terra e encontra-se imerso em seus dilemas e memórias?
"Nós não precisamos de outros mundos. Nós precisamos de espelhos. Nós não sabemos o que fazer com outros mundos. Um único planeta, o nosso, nos é suficiente; mas nós não conseguimos aceitar isso do jeito que é.” de Stanislaw Lem. Nós precisamos encontrar um ser alienígena no espaço para nos espelharmos e quem sabe nos aceitarmos como nós somos.
Crítica por: Fabio Yamada
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